Eu estou só!
 
 
     Perdão se de minha boca escapam palavras de pesar e desgosto. Desconsiderem as sobrancelhas arqueadas, o olhar condenado a mais terrível tristeza e se aquele sorriso desbotou-se e anêmico ficou... desculpem-me se despejo as minhas ‘merdas’ entre vocês. Entre nós...
 
     Hoje é um tempo difícil e já não sei se tenho condições de ser o que a vida pede de mim. As estrelas caíram. Apagou-se o clarão e os meus olhos mergulharam na escuridão mais preta. É o vazio tão imensurável que ainda agora não toquei o seu final.
 
     A minha distração é perder-me nas lembranças do passado que freia abruptamente o meu presente enquanto tudo acontece e eu não participo. Terei o relógio como cúmplice, comparsa?

     É inútil, tolice! O tempo não espera... ele é imparcial e veloz o suficiente para nos atropelar.

 
     Fizemos planos. Construímos o futuro. Escolhemos lugares, cenários, testemunhas de um amor. Mas, você foi embora murmurando coisas que eu sequer ouvi...
 
     Acostumei-me a rotina de palavras ditas e escritas, de canções facilitando as carícias, os beijos, os olhares, os abraços em que estive totalmente abandonado. Que saudade! Tenho me empenhado no propósito de esquecer-te... e ainda assim, você me olha imperioso.
 
     Contrariado, sento-me à beira da estrada respirando os ares da solidão, ouvindo o silêncio de quem vive só. Eu estou só... Por mais que eu tente combater as lágrimas elas ainda teimam em aflorar protestando a sua ausência, reclamando a sua distância. Choro mais um pouco... redobro os esforços na tentativa de contê-las. Desisto afinal, são pertinazes. Não há o que fazer... deixo-as banharem minhas faces com os fios de águas salobras.
 
     Pensei em gritar. Procurei pela voz, estava apagada. Juntei forças, sucumbiram. Meneei a cabeça negativamente... não ia adiantar. Não havia qualquer coisa além de mim. Eu estou só!
 
     Torci as mãos aflito. Tencionei falar... pra quem ouvi? Balbuciei o seu nome. Vaguei, tonto. Perdido e só. Foram dias, noites...
 
     Como de costume fiquei olhando mais uma tarde que lentamente morria frente aos prenúncios do anoitecer... acontecerá comigo?... já não sonho...
 
 

Imagem - Fonte: Google


Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 26/11/2010
Reeditado em 27/03/2011
Código do texto: T2637145
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