Cadelas e diabos
(texto sobre a tesoura da censura, que ainda anda bem afiada).
Não bastasse o sumiço
Inesperado da cadela
Disfarçaram os pobres diabos
Em verdes quiabos babentos
E ainda por cima culpados
Embora sejam tão inocentes
Quanto a singela cadela.
Pobre cadela, mãe da lascívia
Pobre diabo, pai do rock
Foram afastados da noite de autógrafos
Pelos inocentes editores
Que pretenderam reeditar uma nova vida
Sem diabos e cadelas no cio
Onde estarão eles dois: o diabo e a cadela?
Estariam perdidos na noite de estrelas
Ou escondidos dentro de tantas cabeças “inocentes”?
Cabeças em busca de poemas
Que tenham sempre uma rima
Que falem de um amor lindo
Quase sempre de final feliz
Poemas em que não cabem uma cadela e um diabo.
E já que o diabo e a cadela não cabem no poema
Acho que estão eles em melhor lugar
Melhores do que o quiabo
Mergulhado na sopa nojenta de vaidades
Mas, lembrem-se, minha gente:
A cadela e o diabo não foram paridos pelo vento
E seus pais estão preocupados.
Luciano Fortunato
Elano Ribeiro Baptista
Outubro de 2006.
(é que na noite de autógrafos, para nossa surpresa, o poema erótico da cadela – “Natureza Orgíaca” –, e a palavra diabo – que virou quiabo –, vejam só, foram suprimidos do livro que continha nossas poesias).