««« Muros de Silêncio »»»
Coloco este discurso sob a forma de dueto porque apesar de ser escrito apenas por mim, ele só existe porque alguém existe para eu me lembrar de escrever assim...E porque talvez esta seja a única forma de efectivamente existir um dueto, nem que seja de amizade entre estes dois estranhos...
- Ouves-me?
- Sim, diz...
- Sinto a tua falta!
– Mentirosa!
[Risos]
- Amo-te!
[Silêncio]
- E tu?
[Silêncio]
Sinto saudades de estar enamorada por ti, de trocar palavras de carinho e afecto, de sentir o coração bater de forma mais apressada, de ousar viver cada dia de forma mais apaixonada.
[Pausa]
Sinto saudades do que nunca fomos e pior ainda do que nunca seremos, sinto falta de ter sonhos e de acreditar neles, sinto falta do abraço e do beijo na face. Sinto saudades do que nunca fiz contigo e talvez por isso a saudade ainda seja maior, porque nem sei como seria se pelo menos por um dia tivesses sido o que nunca foi...
- Estás-me a ouvir?
- Sim...
- Não dizes nada...
[Silêncio]
Sinto saudades de acreditar que me consideras tua amiga, mas acima de tudo sinto saudades de o ser, estou exausta de ser esta estranha sem nexo e sem espaço, de estar à margem da própria margem, de ousar um tempo que nunca será meu, de pedir algo que não tenho que pedir e por isso já não peço, de viver acorrentada a alguém que não precisa de mim...
- Escutas-me?
[Silêncio]
A verdade é talvez mesmo essa, nunca paraste para me ouvir de verdade, para perceber que aquilo que mais queria não era aquilo que tu pensavas, nem tão pouco o que eu sentia, aquilo que eu desejava era que fosses meu Amigo...
- Acreditas?
[Silêncio]
Eu sei que percebes, eu acredito que sim, eu ainda prefiro acreditar que existe aí alguém dentro de ti que consegue por breves momentos libertar-se do que fazes parecer que és, eu sei que tens uma boa alma, mas que vives assim por gosto, ou por necessidade e que por isso não tens espaço para alguém que queira apenas Amizade...
- Porque nunca mais disseste nada?
- Não calhou...
- Não calhou !?!?!?! Dizes isso assim?
Então deixa-me dizer que sinto saudades do tempo em que calhava, ou então talvez não calhasse, talvez tivesses a necessidade que hoje não tens de me rever, ou talvez seja um disparate tudo aquilo que estou a dizer... O que realmente interessa é que hoje eu decidi falar contigo e por isso escrevi assim este diálogo que é um monologo, ou este monologo que é uma realidade, ou esta realidade que eu não gosto, este não gosto que eu não gosto de gostar...
- Recordas nesta negação alguma coisa?
Não sabes nada de mim, e eu nada sei nada de ti, viramos dois estranhos, e eu nem posso fingir que não estava à espera que as coisas se tornassem assim, e tudo isto me pareceria justo se eu não achasse que não devia ser assim...Mas se é o que queres e se eu estou assim perdida na mágoa que sinto por me fazeres sentir assim, então nada digo, deixo-te na tua paz e no teu sossego, talvez assim possas ser feliz, e eu aqui hoje desabafei aquilo que não falo contigo porque as teclas estão demasiado gastas e o caminho para o destinatário demasiado farto...
- Será que um dia terás coragem para me procurar?
[Silêncio]
- Não respondes?
- Já sabes que não...
- Eu sei...
- Perdoas-me?
- Não foi isso que sempre fiz?
- Gosto de gostar de ti
- Eu gosto de ouvir essa frase vinda de ti e de me lembrar que um dia ela foi mais do que simplesmente isso em que se tornou...
- E ainda te lembras?
- Não se esquece o que se perde assim...
- Então lembras-te?
Só quando acordo e não recebo um Bom Dia, apenas quando a noite chega e não recebo um Boa Noite, somente quando os dias passam e não me ligas nenhuma, unicamente quando o dois se mistura com o sete, exclusivamente quando me recordo de ti e tenho Saudade
[Sorrisos]
- Agora chega dá-me um abraço, eu sei que está na hora de partires novamente...