DELICATIUM... SEMIDEUS
DELICATIUM
Há tempos não sei o sabor do sal
Degusto as magias do céu
Desvendo-me em cio
Ou o gosto do tempero ao sol
Não miro as estrelas ao sul
Há tempos sou estatua de jardim
Há séculos sou miragem de mim
Por milênios somados em retalhos
Cor de pêssego em desenho Persa
Deixei os campos gregos e Creta
Com Artemis, caçar Javalis de bruma
Hefesto queimou chamas e deu-me as brasas
Tiradas vivas por Bestla do centro-vulção
Com as quais cunhei seu pendão
Silenosm enfeitaram a peça trabalhada
Iduna descreveu em pétalas a poesia
Fiz cantos perdidos e decorei o dia
Thrymr lançou-se em ventos nórdicos
Mjölnir voando sem asas rumo ao trovão
Iluminados em amor pagão
Somos ramalhetes de carne e mitologia
Dentro do tempo, no tempo ao tempo que viria...
Pintei nosso tom... Com as cores de Odim
Amados... Deitemo-nos entre a relva-cetim
No pro vim dos tempos... Voltemos à Álfheimr
SEMIDEUS
Doce e belo Baco!
Faze de mim tua deusa e, como aos pés de Réia,
Deita-me ferozes leões, que morro contigo a cada inverno,
E me renasço, como tu, na primavera.
Verte teu sumo entontecedor, que te aspiro o orvalho,
Em ondas purpurinas, essa torrente rubra, esse licor que dá mais sede!
De Ampelos, criaste a vinha, e a cura pros males do homem.
Então vem a mim - deus da vindima -torna-me tua bacante, que, por teu olhar, empunharei o tirso e me cobrirei de tênue linho e serpente.
Vem a mim, não em metamorfose, disfarçado em cacho de uvas, que não sou Erígone ou Ariadne.
Não! Quero-te mortal, quero-te meu único deus, a derramar sobre meu ventre as vitórias ancestrais de batalhas de amor.
Quero-te fálico, cálido, ávido, hábil, mau.
Quero-te terra, fruta, pão. Quero-te pagão!
E nesse ritual, bacante, somos atores amantes, foliões de eternos carnavais:
Somos livres animais.
Dentro de ti, sou embriaguez e uva.
Dentro de mim, és vinho e festa.
Sacerdotisa e deus, vestal e ídolo, toma-me, bebe-me, amor.
Otavio JM & Lílian Maial