Prisma de Um Caboclo Cantarola

Raiar do dia...

O alvor se faz festivo

com o canto dos passarinhos!

A estradinha de saibo orvalhada

aponta pra a porteira que ecoa vestígios

de um tempo já esquecido!

Na mesma velha porteira,

o galo ostenta gorjeios

em sincrônica harmonia

com o cacarejar das galinhas!

A casinha de pau-a-pique

ostenta os humildes tratos:

colchão de palha, fogão de lenha,

coador de pano, bule esmaltado,

taquara seca quebrada

em novas labaredas formadas...

Na cozinha de chão batido,

incansáveis passos caminham

no recanto sem enchentes...

O cheiro do bolo de fubá com queijo se exala...

O café fumegante acompanha a mandioca frita

e o milho assado no braseiro ardente

apetece o coração da gente!

Chega à noitinha:

sob a luz da lua prateada no alto da serra,

um caboclo cantarola

entoa canções evocadas

em espirais rememoradas

pelos dedilhos na viola!

Com cigarros de palha no bolso,

a brisa brinca em seu rosto,

enquanto os grilos entoam e se unem

às algazarras latentes

do faiscar dos vaga-lumes.

Com as lembranças esvaídas:

um sopro de dor ecoa no lampião a querosene,

e vem a espera triste

dos segredos de um novo dia

de alegrias e folguedos!

(Macris & Antenor Rosalino)