Kathleen Lessa e Ricardo Sérgio de Menezes Nunes


AGOSTO

De cachorro louco,
De empinar pipa,
De pedir socorro.
De espalhar sal grosso e alho pela casa,
De contar lendas e causos,
De vacinar cães.

Folclore?
Saci arreliando o tempo?


Aqui,
No agosto de cachorro louco,
Se fala em frio de inverno,
Que não é pouco.

Aqui,
No agosto de cachorro doido,
Em dias de outrora inverno há verão,
E não é pouco.

Aqui
Agosto tem gosto
de poeira
de goteira
de torneira
sem água.
Agosto tem gosto
de desgosto. 

Aqui
Agosto tem gosto
de veranico a 30 graus
de olhos inflamados
de céu nublado
sem água a nos lavar do azar.
Agosto está ao gosto
do desgosto.

E se em três dias houver garoa forte,
Três noites terei o mesmo sonho.

E se ao menos em três dias houver garoa forte,
três noites terei de alegria, de liberdade,
em comunhão com árvores e flores sedentas...

CHOVEU!

Choveu!
E vamos nós na rabeira da chuva
que trouxe na garupa o frio de temporão. 

Choveu!
E vamos nós na cauda dos temporais
que trouxe na algibeira o fim do calorão. 


[Ai, que já definhávamos como plantas na estiagem...]
Choveu!
Campo Grande e São Paulo
Foram felizes por um tempo. 
 




Música de fundo: "Saci Pererê", de Emiéss