Eu Tenho um Rio
Lílian Maial
eu tenho um rio que brota de dentro
e traz à tona o que foi sedimentar
tenho margens estreitas, correnteza furiosa
sem escolhas, apenas desaguar
invado e erodo, aliso cascalhos
até escorregar no limo do verbo
eu tenho um rio que leva as paredes
que se erguem em meio ao lixão da poesia
e soterra a palavra viva
eu tenho um rio de inundadas faces
e chovo poemas de sangue
eu tenho um Rio de Janeiro no peito estiado
e expio a falta da lembrança do teu rosto
************
LAMA E LÁGRIMA
Luiz de Aquino
Brotava de mim um poema choroso,
de chuva de letras e lágrimas vírgulas.
Um veio de triste manchava meus olhos
à lama escura de um lixão esquecido.
Chorei plástico e lata, indefinido orgânico,
e fiz brotar o chorume na raiz das casas.
Eu não chorei um rio, mas o Rio de tantos
corações e janeiros, desde Sá e Araribóia.
Um rio de cá, o outro de lá e Itaipu.
Não era um céu, mas meus olhos; o verso,
um claro de lama e pedras sem verde.
E um rastro de sal na lama e na lágrima.
A bênção, Bumba (meu morro)!
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Lílian Maial
eu tenho um rio que brota de dentro
e traz à tona o que foi sedimentar
tenho margens estreitas, correnteza furiosa
sem escolhas, apenas desaguar
invado e erodo, aliso cascalhos
até escorregar no limo do verbo
eu tenho um rio que leva as paredes
que se erguem em meio ao lixão da poesia
e soterra a palavra viva
eu tenho um rio de inundadas faces
e chovo poemas de sangue
eu tenho um Rio de Janeiro no peito estiado
e expio a falta da lembrança do teu rosto
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LAMA E LÁGRIMA
Luiz de Aquino
Brotava de mim um poema choroso,
de chuva de letras e lágrimas vírgulas.
Um veio de triste manchava meus olhos
à lama escura de um lixão esquecido.
Chorei plástico e lata, indefinido orgânico,
e fiz brotar o chorume na raiz das casas.
Eu não chorei um rio, mas o Rio de tantos
corações e janeiros, desde Sá e Araribóia.
Um rio de cá, o outro de lá e Itaipu.
Não era um céu, mas meus olhos; o verso,
um claro de lama e pedras sem verde.
E um rastro de sal na lama e na lágrima.
A bênção, Bumba (meu morro)!
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