CONTAS
Cristina Lima
   
Quisera não estar sozinha
respirando o vazio,
e apenas ter as respostas
para essa falta de ar, de par, de risos.
   
Queria ser o centro e não as pontas, as contas,
que quebraram e espalharam no chão, no vão,
entre os dedos, na palma da mão...
   
Quisera ser a musa na cama, nas farras,
no meio da madrugada e até o raiar do dia,
e ser apenas eu a sorrir na fotografia...
   
Finalmente vestir-me de namorada,
e embriagada de ciúmes e saudade,
desfazer os nós, cortar os laços,
adormecer e acordar nos seus braços...

          
A Judia
                  Jotabe

                 Queria perceber, de vez, quem fez
                 eu me sentir tão triste, tão sozinha...

                 E ao descobrir que assim não estou
                 abriria o sorriso meu, par perfeito do seu,
                 encontraria as contas que nunca perdi,
                 onde nem os noves, por ora, ficariam de fora.

                 Assumiria de vez, a cama que me espera,
                 ela sim, sozinha, sem a presença minha,
                 da madrugada ao raiar do dia, todos os dias,
                 a olhar a tela do artista, no quarto, ainda no chão,
                 como quem pacientemente confia,
                 um dia, na parede tornar-se minha fotografia.

                 E com as bênçãos do céu,
                 quase encoberta pelo véu a beijar-me o rosto,
                 pelo ciúme e pelos nós perderia o gosto,
                 cometeria o "crime" de matar a saudade
                 que para mim tem a idade da eternidade,
                 e ficaria à espreita do laço tão esperado
                 da musa com o seu poeta enamorado.




A imagem acima é a foto da pintura a óleo "A Judia", comprada no primeiro semestre de 2009, ao artista Edilton Santos, de Surubim-PE.