Salvador-Bahia: De Gregório aos nossos dias ( aberto a participações )

Gregório de Mattos

Define a Sua Cidade

De dois ff se compõe

esta cidade a meu ver:

um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,

e quem o recopilou

com dous ff o explicou

por estar feito, e bem feito:

por bem digesto, e colheito

só com dous ff o expõe,

e assim quem os olhos põe

no trato, que aqui se encerra,

há de dizer que esta terra

de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta

está a nossa Bahia,

errada a ortografia,

a grande dano está posta:

eu quero fazer aposta

e quero um tostão perder,

que isso a há de perverter,

e o furtar e o foder bem

não são os ff que tem

esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,

prontamente como um brinco:

Bahia tem letras cinco

que são B-A-H-I-A:

logo ninguém me dirá

que dous ff chega a ter,

pois nenhum contém sequer,

salvo se em boa verdade

são os ff da cidade

um furtar, outro foder.

*****

Que conteste quem puder

Jorge Linhaça

Quem for baiano conteste

( se é que pode contestar )

venha correndo se apresse

que é pra hora não passar

Diga lá que é mentira

esses versos do poeta

Carnaval, que maravilha!

E os bastidores da festa?

Os dois FF sobrevivem

de mais um ora acrescido

que tem cheiro diferente

dum arbusto conhecido

Pinta-se a casca do ovo

de há muito apodrecido

quando nada há de novo

pra esse povo sofrido

Quem for baiano conteste

( se é que pode contestar )

venha correndo se apresse

que é pra hora não passar

Qualquer chuva, um "Deus me acuda"

nas encostas da pobreza

mas a mídia, absurda,

tem mania de grandeza

Nas ruinas lá do brega

tudo é preservação

Mas ao povo se renega

não valem um simples tostão

Então me digam, senhores

O que mudou na Bahia

Dois dos FF inquiridores

Que cantou Gregório um dia

Quem for baiano conteste

( se é que pode contestar )

venha correndo se apresse

que é pra hora não passar

Arandu, 13 de março de 2010

Prezado Jorge, sua lembrança quanto a figura do Gregório de Matos foi oportuna. Apesar dele se destacar pela forma com que escrevia, era um poeta sim. Quanto ao que vc escreveu, estou aqui contestando às pressas pra hora não passar. Sou baiano e vc me atiçou. Agora veja a minha contestação. Se puder, publique no Luna&amigos pois garanto q renderá comentários. Abraços e bom domingo.

Te contesto caro Jorge,

realmente são dois ff,

mais não a tranqueira que dizes,

dois ff são Força e Festa.

Sou baiano e me orgulho

do meu povo arretado,

que com garra e muita força,

destaca o nosso Estado.

De força vive o baiano,

um povo batalhador,

sempre pronto a morrer,

com orgulho e valor.

A força do baiano é nobre,

não possa isso negar,

apesar de um povo pobre,

vive feliz a cantar.

O baiano é feliz,

e a todos contagia,

com a sua irreverência,

faz festa com alegria.

Para o povo baiano,

que transpira simpatia,

tudo é motivo de festa,

tudo é paz e alegria.

Se você, prezado Jorge,

resolver ir lá um dia,

será recebido com festa

na minha querida Bahia.

Valdir Barreto Ramos

www.ramos.prosaeverso.net

Caro amigo Valdir:

Desculpe caro amigo, mas Gregório de Mattos não foi "um poeta"

ele foi "apenas" o criador da identidade poética brasileira.

O criador e maior expoente de nosso barrôco. Como baiano deves conhecer a obra de Fernando Rocha Paes, historiador , poeta,escritor e professor da Universidade Federal da Bahia, pela qual aliás, nos idos de 1600 Gregório lutou enquanto pode para que fosse construída.

Gregório além de tudo isso foi Juiz de Fora em alcácer do Sal em Portugal e retornou ao Brasil Como Arcebispo da Bahia.

De 1683 a 1694 firmou-se como o grande satírico dos costumes do povo, do clero, e dos nobres da Bahia, o que rendeu-lhe ameaças de morte e desterro para Angola. Retornou ao Brasil em 1695 , desta vez para o recife, onde faleceu no mesmo ano, em 26 de dezembro, seis dias após a morte de Zumbi dos Palmares, e três dias após completar 59 anos, longe da sua amada Bahia, vitima de uma febre contraída na África. Portanto caro amigo, " um poeta" sou eu...Gregório foi muito mais do que isso.

Lembre-se caro amigo,que a Bahia para Gregório era apenas a cidade de Salvador, ou a Bahia de todos os santos.

Respondendo á tua excelente contestação, vão aqui os meus versos, lembrando que, como Gregório, nada tenho contra os soteropolitanos, pelo contrário, minha intenção, como a dele é justamente a da conscientização desse povo, manipulado por "pão e circo"...Muita gente aumenta sua renda por conta das festas, vendendo cerveja ou quitutes, mas a festa acaba e a realidade volta com força :

Abraços fraternos

Jorge Linhaça

Salvador que ninguém vê

Jorge Linhaça

Na Bahia eu já vivi

Cidade de Salvador

E o que por lá eu vi

Foi o que Mattos cantou

Muita festa, é verdade

Pra chamar bem ao turista

Mas o povo da cidade

não vive só de artista

Lá na baixa do Bonfim

presenciei a lavagem

a bebedeira sem fim

O rito? Só pra filmagem

A catedral é cercada

por mil cordas e polícia

Não se vê nem a escada

devido a essa estultícia

Quem anda pelo arredor

quando o rito se festeja

só sente mesmo o fedor

mijo, maconha e cerveja

Briga e roubo comem soltos

Correntinha ou celular

Sim, são muitos não são poucos

Do que mais falta falar?

Quer falar do carnaval?

O dos pobres ou dos ricos?

Tudo é muito desigual

como o prato e o pinico

Compre lá um abadá

"3 mil raws" quem se importa?

Ou então saia a pular

no fundão , como pipoca

Turista vai pro farol

pobre fica é na Ribeira

curtindo praia e sol

no meio da bagaceira

De Ondina ao Estaleiro

veja quantas diferenças

Numa só quem tem dinheiro

Noutra um foco de doenças

Ratos nadam com banhistas

e se escondem nas ruinas

Salvador é pros turistas

Até que a festa termina.

No mar perto do Farol

terminado o carnaval

Latas de Bhrama e Skol

Formam blocos no canal

Que Salvador é mui bela

ninguém o pode negar

Mas esconde mil mazelas

que pretendem ocultar

Moço, me dá um trocado,

Quanto ouvi esse jargão!

Deve ter sido insprirado

No "poeta estende a mão"

Lá na praça Castro Alves

ele, de mão estendida

parece dizer " Me salve!"

Minha gente é tão sofrida!

O trânsito é um caos

O busão é um horror

Governo cara de pau

Diz que é culpa do calor

O povo de Salvador

simpático e caloroso

faz alegria da dor

Canta o amor e canta o gozo

Quando a turma do axé

usar sua cantoria

como um auto pela fé

pra acabar com a hipocrisia

Acabar com o "pão e circo"

mostrando a realidade

Que o povão "paga mico"

pelas ruas da cidade

Quem sabe se os governantes

da tão querida Bahia

reflitam por um instante

Ah, que bom isso seria.

A policia vive em greve

( Foi até pro B-B-B)

E o crime come e ferve

E quem tá longe não vê

Diga lá, meu caro amigo:

No que Gregório mentiu?

Da Bahia fez umbigo

pra falar deste Brasil.

Cinco séculos passaram

Veja só que coisas loucas

As merdas mesmas ficaram

só mudaram mesmo as môscas

Arandu, 14 de março de 2010