O retrato e eu...
Da parede, parcialmente empoeirado
num abandono de triste aparato
pende sem prumo, só e amarelado
teu sorriso que ficou neste retrato.
E num canto encharcado de pranto
O meu corpo ainda tórrido da tua lembrança
Vestígios de um amor sem encanto
Sem vereda, sem rumo, sem esperança.
Deste lugar onde me prostro amargurado
por esta angústia que vara a madrugada
fico com o pensamento no passado
e os olhos na imagem pendurada.
E num repente, o que era um silêncio combalido
Fez-se um rumor, um retrato, no chão, estilhaçado
Meu arcabouço, no mesmo chão, amalgamado, tão sofrido
Cacos de uma vida, um coração despedaçado.
Sérgio Murilo & Rui Tavares