Amor e mar
Dueto ao AO GOLPE da onda contra a pedra indócil -
Cem Sonetos de Amor de Pablo Neruda
Não fosse o anelo eterno de nossas almas prometidas,
selado no silêncio da doçura, oh amado, não amaria
feito fímbria ruiva deflorando o mar em suas veredas,
na fragrância auroral encontrando as brisas todo dia!
Lépido vendaval agrest’empurrando a borrasca afoita,
juntos,amado,amarrados à chama que o amor enfeita,
das fundas raias sem perfume partimos, inflamados;
encantou-nos um sopro mágico,oh delicados pecados!
Mares que às rochas se imantam em dulcíssima alvura,
vossa quietude melodiosa estrela tantos beijos d’amor!,
voz de nossos anseios sussurrantes d’incrível ternura,
transcendo o celeste marulhar quase infinito, cuja cor
miraculosa de camaleão tudo transfigura em encanto,
e avivamos destino inacreditável como revel proscrito!
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PABLO NERUDA - CEM SONETOS DE AMOR
AO GOLPE da onda contra a pedra indócil
estala a claridade e estabelece sua rosa
e o círculo do mar se reduz a um cacho,
a uma sóogota de sal azul que tomba.
Oh radiante megnólia desatada na espuma,
magnética viaigeira cuja morte floresce
e eternamente volta a ser e a não ser nada:
sal roto, deslumbrante movimento marinho.
Juntos tu e eu, amor meu, selamos o silêncio,
enquanto o mar destrói suas constantes estátuas
e derruba suas torres de enlevo e brancura,
porque na trama destes tecidos invisíveis
da água entornada, da incessante areia,
sustentamos a única e acossada ternura.
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Santos-SP-04/08/2006