DIFERENÇAS II- Dueto com Silvia Mendonça

Inspirado no texto original de Silvia Mendonça ‘Diferenças’ publicado no Mural dos Escritores

http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/diferencas-ii?xg_source=activity

http://www.recantodasletras.com.br/duetos/2061962

Silvia: Continuemos a fiar.

Diz meu coração: há, sim, homens inteiros.

Homens que entenderam: a beleza de ser vem de dentro.

Hilde: E esta deve ser uma compreensão universal a unir a espécie numa proposta de reconciliação que olha mais a essência que a aparência.

Silvia: E que isso vale para ambos os sexos.

Homens que não precisam de uma noite escura, nem de uma carabina carregada de desprezo para brilharem.

Hilde: E mulheres não precisam guerrear como se os homens fossem concorrentes na busca da felicidade porque são antes de tudo parceiros nos sonhos e no mesmo propósito de encontrar amor e dele tirar a seiva que os realize enquanto seres humanos.

Silvia: Aliás, acredite: o que mais excita uma mulher é a beleza que reluz de dentro de um homem, sem dissimulação no olhar.

Hilde: E o que mais atrai a um homem é saber que a mulher não se deixa transformar-se no ser masculino para competir e vencer uma guerra burra. As diferenças são inerentes às espécies e ninguém precisa despersonalizar-se, ou diminuir o outro para ter o seu espaço garantido. A natureza com seus encantos reservam a cada um o seu direito líquido e certo de ser É só estar ‘antenado’ para fazer acontecer.

Silvia: Homens que desejam a felicidade das estrelas sem negarem combustível à fêmea; a ternura à menina.

Hilde: Está aí algo que transcende a generosidade e se aloja no respeito ao direito do outro de crescer sem tentar cercear-lhe a liberdade pelo simples medo de que o brilho a estrela ofusque o seu próprio.

Silvia: Homens que dispensam mulheres de visitar as estrelas não passam de desastrados - o interesse nítido (primeiro) é o do corpo, mesmo olhando de outro mundo, de outro modo.

Hilde: Sim! A estética tem esse imã que nos leva a admirar a beleza física como centelha, mas não somos apenas um corpo físico e estático porque o tempo é cruel e a todos envelhecem, menos o que há no espírito.

Silvia: Afinal, mulher não é uma peça de alcatra e gosta de ser tratada como gente. A recíproca não é verdadeira?

Hilde: É vero! É mais... E o fascínio está em perceber o que está além ou aquém da carne.

Silvia: Os que se insinuam a partir da bunda, que me perdoem: não os excluo, mas é por pura esperança em saber se eles têm algo a reluzir.

Hilde: Olha... Toda bundinha (até as ‘decaídas), todo bumbum, teu seu fascínio... Não posso negar, nem ser hipócrita ao tentar esconder o que os sentidos despertam e aos olhos encantam. Não somos anjos e nem cegos. Mas a gente fica mais aceso quando a mulher abre um sorriso e aí se segure o homem fica cativo se atrás do riso ela diz algo inteligente. Aí a gente pensa ela por inteiro.

Silvia: Sei que a carne é fraca, mas eu sou quase vegetariana.

Quase.

E os outros?

Hilde: Todo homem é meio carnívoro. É claro que há os naturalistas, mas são poucos, na soma geral. Por vezes sou vegetariano, mas no frigir dos ovos e do rala e rola não intelectualizo o desejo se a fome é tamanha e os sentidos foram despertados. Aí é fogo... (Risos)

Silvia: Bem, os outros continuam competindo para superar os homens do imaginário de nossas mães - em pus e insensibilidade.

Para estes ficam as outras, as batatas, a cerveja e meus mais sinceros mantras.

Hilde: Visão interessante. A meu ver as mães sempre ‘estragaram’ seus filhos com um amor exagerado. Quando não os superprotegem, os desprezam. Talvez esteja aí à raiz do problema e das diferenças se acentuarem.

Silvia: Busco homens luminosos que dispensam verniz.

Descobri que adoro homens que eternizam um café da manhã ou uma noite de luar com o mesmo sorriso.

Homens que beijam à altura.

Hilde: Adoro mulheres que não dissimulam seus sentimentos e não temem expor seus amores e suas preferências. Atualmente estou amando aquelas que até escrevem sem medo esses sentimentos, sem o receio tolo de ser criticada. Penso que assim temos relações mais saudáveis e a quebra dos paradigmas e das separações que impedem a plenitude.

Silvia: Homens que repitam meus versos sem esconder que o poema foi certeiro.

São estes que me interessam.

Mais que interessar, importa.

Hilde: Você possui a rara qualidade de ver além das aparências e sabe provocar o interesse poético e filosófico a tal ponto que não resistimos vir a ousar comentar seus versos e até nos trás uma adrenalina de sobremesa ao imaginar a tua reação pela ousadia. Risos.

Silvia: Há que se compreender que lobas da minha idade queiram homens adultos, aqueles que detêm a sabedoria de que contêm machos a expressar.

Não quero homens de calendário.

Nem pelas fotos, nem pela conta dos dias.

Quero homens com alma.

Aqueles que descobriram que há vida em nós após a maternidade.

Que deram à luz a si mesmos.

E tem mais...

Salvador?

Só na Bahia!

Hilde: Aqui em Guarajuba-BA, num belo domingo de sol à beira mar, 40 km de Salvador, me delicio com tua sabedoria e imagino que sejas sincera, mas que também despreza os ‘gatos’ sarados e que tem conteúdo, não é mesmo? Claro que falo por mim com relação as lobas, felinas e gatinhas que vejo daqui expostas na piscina do Condomínio Summer House. Eu sou meio guloso... Olhos pra todas sem discriminação ou preconceito. Algumas até nutro um silencioso e formal desejo enquanto degusto uma geladinha e me inspiro a comentar teus escritos.

Silvia: Exceto se a fantasia for deliciosa.

Não quero príncipe.

Nem bombeiro.

Nem médico.

Por menos que encantamento, não conte comigo.

Hilde: Para mim pode ser médica, princesa, bombeira, salva vidas fazendo boca à boca num apoteótico salvamento me dando um ‘murro’ pra tirar do sufoco do afogamento hehehe!

Silvia: Sirvo poemas matinais aos que queiram poesia para voltar do cosmo.

Sirvo café na varanda, carinho à sombra de saladas construídas como paisagens.

Sirvo a delicadeza que antecede as meditações.

Sirvo uma amante, sem pressa.

Hilde: Está aí tudo que um homem sonha dormindo ou ao acordar receber da sua amada. Os poetas então são inspirados por visões como estas descritas por ti. Tudo que vem com carinho e criatividade alegram o coração de um homem.

Silvia: Ainda acredito que existam homens que amem poesia, homens iluminados; crianças o suficiente para mostrarem como brincam com as próprias luzes e iluminem a cama comigo.

Homens meus.

Apaixonados.

Acredito em quartos preparados de surpresa.

E quartos encontrados dessa forma.

Olhares no silêncio.

Lágrimas de paixão.

Tremeliques – por que não?

Hilde: Ui! Fiquei sem fôlego com tanta volúpia e imaginação. Este visual só poderia vir de uma poetisa intensa e cheia de vida como você o é. Muito bacana expor assim seus desejos mais íntimos e ainda mais com tremeliques... Uau até arrepiei aqui. Risos.

Silvia: Ah, como acredito em homens que trocam gestos, carícias, palavras.

Por favor, homens: mostrem-se no primeiro encontro - se vão ser companheiros ou constrangedores.

Hilde: Nem sempre conseguimos num primeiro encontro, creio que a ansiedade, ou a timidez por vezes atrapalham, mas quando a parceira nos deixa à vontade aí tudo rola com alegria e companheirismo, mas não creio que se possa antever isso.

Silvia: Homens que estoquem excitação fora da virilha.

Que abram fendas no tempo para a saciedade a dois, sem pressa, com o poder do relaxamento.

Bruxos possessos, sorridentes de magia e predisposição!

Hilde: Sim! A excitação não se dá apenas no aparelho genital embora seja um elo importante. Temo cheiro no pescoço, os dengos milagrosos do sorriso, do olhar luminoso e inteligente, do diálogo fácil ou do silêncio obsequioso para ouvir o vento e o que de beleza nos circunda. O que temos é que deixar a vontade rolar e o interesse crescer.

Silvia: Amo homens que sinalizam desejo sem medo - sofro com os que se acham menos machos por isso. Prefiro que digam com um sorriso que não. Mesmo quando tremem suas narinas.

Graças aos céus não somos iguais.

Nem comparáveis, nem competitivos.

Hilde: A exposição dos nossos desejos, por si só, já inicia a conquista e nessa hora não se pode ter medo. Mas às vezes ficamos assim meio ‘’borococho ‘’ como que entorpecidos pelos encantos da mulher e nos falta chão e iniciativa... Mas se ela incentiva logo entramos no circuito e a eletricidade e a química se dá.

Silvia: Quer saber, acho que parte da velha busca de igualdade entre os sexos que moveu gerações, resultou em desequilíbrios, desviou a todos do essencial para recrudescer papéis equivocados, imagens e orgulhos.

Por isso, antes mesmo de questionarmos em que somos iguais, devemos entender que criamos duas tribos, cada uma com oito mil clãs, um milhão de subpropósitos e infinitos estatutos, todos parcos de amor.

Tribos plenas de competição, nossa maior miséria.

Hilde: Pois é... Acredito que à medida que as mulheres foram conquistando espaço na sociedade, muitas vezes com lágrimas de sangue, foi sendo criada a competitividade que por um lado foi positiva às suas conquistas, enquanto pelo lado afetivo foi sendo criado um fosso

Separatista. Hoje creio que estamos muito próximos e isso pode ser corrigido.

Silvia: O equívoco da sociedade celular, das famílias empilhadas é a negação de essências, a aniquilação do contentamento possível.

Perdemos as noites estreladas e a natureza transitória, a poesia, a leveza que permite a eterna juventude aos que amam.

Hilde: Mas sou otimista porque creio que por vezes surgem pessoas como você com sua clarividência a nos mostrar o caminho com reflexão necessária e inteligente.

Silvia: Não há amor que resista à competição.

E à ansiedade pelo tempo.

Não há amor que resista a quem prefere ser clone a ser humano.

Hilde: E isso é tão comum quando a danada da vaidade se instala e comanda as suas ações. Perde-se o outro como complemento e o vê como um jogador que se tem que vencer... Ao amor só as migalhas...

Silvia: Aos que compraram uma metade de casal e modelos de família por catálogo - enquanto a corda balança – eu deixo mal aferrolhado o cadafalso dos carnês e as certezas lucrativas das seguradoras.

Fiquem com as gritarias do porvir.

Eu quero amor!

Procura-se homem imperfeito, com alma à mostra.

Hilde: Os modelos a se seguir devem ser àqueles que te fazem crescer sem afogar as tuas possibilidades... E sem impedir que o outro cresça junto, ou seja, o amor é o foco generoso que faz com que dois sejam um só. Quando há sintonia sente-se os fogos de artifício estourando ao mesmo tempo.

Silvia: Homem de verdade, a quem falte o ar sem o contentamento de ser amado, que não cuspa no prazer dividido, nem no que é sagrado à sua masculinidade.

E pode me chamar de “minha mulher”, sim.

Enfim, homem incondicional.

Que não me coloque à deriva por chantagem.

Hilde: É preciso mesmo ser homem por inteiro, mesmo que venha doer por se ver, às vezes, esquecido no silêncio da espera dos humores do tempo, mas sem temer ficar à espera de que ‘A tua mulher’ esteja preparada para doar-se no que trabalhou no silêncio das suas reflexões e ocupações, no sacrário silencioso de degustar o que foi gestado na fecunda solidão que todos precisamos para viver com qualidade.

Silvia: Homem que ferva em ser desejado e despeje o seu caldo em poesia com toda a luz de estar presente.

Homem que se dê o direito de amar.

Homem que abdique do presídio das contas e almoços de família por amor.

Hilde: Esse é o hipotético ato perfeito de levar de dentro do ser pra fora o produto da sua virilidade poética que se intensifica no abraço reconhecido da amada.

Silvia: Homem que, amando, vai além da lâmina do silêncio, afiada pelo orgulho.

O amor é a única coisa que vale qualquer preço.

Vale até ter filhos, não tê-los, ou sequer sabê-los, contanto que seja por amor.

Triste de quem não tange o sagrado num ato de amor.

Infeliz é quem escarra nos sacrifícios que o amor exige.

Hilde: Sim há que se pagar o preço, qual seja, do amor e se acender a chama que ilumina as relações fecundas ou contemplativas dos amantes. Aí se dá o ‘carimbo’ que legitima e fundamenta o amor e a união dos dois.

Silvia: Reescrevam os dicionários: miserável é quem não sabe receber ou partilhar amor.

A flecha que atravessa os corações é vínculo.

Não se ama com a razão.

Como se pode viver sem ter alguém por quem morrer?

Hilde: Palavras novas podem ser criadas nesse ideário para em comunhão escreverem juntos uma história que harmonize os sentimentos e dignifiquem os momentos de dedicação compartilhada.

Silvia: Corações mudos, amores de papel, jogos de poder e posse.

A isso chamo “moral”.

E da forma como broxam, deviam ser crimes inafiançáveis, pois amor não tem preço.

Hilde: Há que se gritar a quatro ventos ouvindo as flores e entupindo as narinas com o perfume suave da eternidade, bafejando o teu pescoço e arrepiando a tua pele com o sangue fervendo e estremecendo teus alicerces com desejo e paixão aflorando tudo.

Silvia: É só por isso e, por tudo isso, que quero aquele cujos olhos brilhem ao saber que a potência, a criatividade e a paixão de uma mulher apontam para si.

Se não quer isso, mas quer alguém, deve querer uma escrava, o oposto de contente.

Imperativo mesmo é unir duas almas em estado de simbiose, muito além das subdivisões, sob quatro mãos incansáveis, para expressar sonhos táteis.

Hilde: É na re-união das almas que se tateiam e se re-encontram na imensidão do cosmo, que se dá essa explosão e que depois se aquietam e se põe à mostra, para o veredicto da arte e dos prazeres dantes sonegados e agora perfilados diante dos apaixonados.

Silvia: Beijar-se os olhos sem covardias, porque “o arrependimento é arte do depois”.

Homens de minha vida: cuidado e coragem!

Não dá pra ser feliz e ter medo de enfrentar o meu amor.

Hilde: Sim! Li. Ouvi. Senti. O teu brado forte e latejante que implodiu em meu interior e cujos fragmentos aqui expõem, como uma necessidade de vir dar um testemunho confiante na existência do amor verdadeiro, que nos une nas diferenças e nos mostra que mesmo adultos, seremos sempre duas eternas e confiantes crianças aprendizes na arte sublime de amar sem reservas ou medos.

Silvia: Amor, para mim, é estar por perto, em alma, no todo!

Pois, para sempre ou não, este tipo de amor vale à pena.

Quem se habilita?

Hilde: Nobre e completa poetisa Silvia... Fiz aqui mais um esforço e exercício poético para dialogar com teus sábios versos que por si só já dispensariam minhas palavras, mas que diante do encantamento fui de todo mergulhado, para que saibas, que o que escreves com a alma bonita que possuis, tem em mim um devotado fã a sonhar imortalizar o teu grito de amor.

Dueto: Silvia Mendonça (10.09.2009 e Hildebrando Menezes (31.01.2010)