SOPA SALGADA / SOPA SAGRADA - Júlio Nessin e Seilla Carvalho
SOPA SALGADA
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Deste oceânico eu me embriago...
Contente, guardo minhas intenções!
Sinto-te da distância que te trago
O doce reflexo no teu mar de embarcações
Algo me projeta ao abismo desse ser
ingerindo-me da mente à criatura!
Sinto vontade da tua úmida languidescer
Vontade de te comer em natura
Beber teus sucos em intensas interações...
Relaxar ao cheiro do mar e te amar
Misturado de tantas secreções
Em nossa viscosidade amalgamada sensações
Nossas entranhas possam saciar-se em seduções
Do refúgio para o mar, ao refúgio para amar!
(Júlio Nessin)
SOPA SAGRADA
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Útero-oceânico, meu abrigo...
Continente que guarda intenções!
Sinto luzes brilhantes e o barulho oco da distância
Esse é o doce reflexo do teu mar!
Águas que me protegem dos abismos desse ser
O que ingeres na tua mente criatura?
Sentimentos úmidos...
Devo beber!
Que emoções deverei comer?
Quero me proteger dos teus sucos de intenções...
Sensações!
Sem ação me deixas,
Diante das tuas secreções.
Sinto-te viscosa e sei que vou me afogar
Queres me matar?
Líquidos no teu corpo:
Lágrimas,
Suores,
Vômitos,
Mênstruo,
E, esperma...
Tudo isto é “sopa”!
Sacrilégio!
Coisa misturada, confusa, amalgamada...
Sopa de idéias...
Líquido que alimenta
Corpos e almas!
Viver de sopa,
Alimento das deusas...
Um dia, ei de querer!
E nesse desejo ardente
Ser gente
Traz o perigo...
E se vomitar o teu amor?
Deverei então mergulhar na aguardente
Sopas: águas ardentes!
Oh, não!
Penso que o vinho
Das tuas entranhas possa saciar
Minha sede de querer... de saber... de ter...
Um refúgio para amar!
(Seilla Carvalho)