O Cabecinha Chata

Em São Paulo, na época da megalomania no Brasil, foi concentrada a maior massa humana de trabalhadores num só local, oriundos de todos os cantos do país, sobre tudo do nordeste brasileiro. Foram enormes e de toda à sorte os problemas gerados pra cidade –é claro – mas também foi um sem fim de casos pitorescos ali vividos, dos quais salientamos aquele de um cabecinha chata que também chegou ao canteiro, pra emprestar sua mão de obra. Aconteceu nos arredores da grande Sampa, onde o cabra macho, de mala e cúia resolveu se hospedar. De chapéu de couro e bagagem nas mãos adentrou a pensão de Dª. Flora que o recebeu;
Como se chama? – no que ele respondeu:
Faustino Fagundes Ferreira Filho.
De onde o Senhor veio?
Fortaleza.
O que o Senhor faz?
Ferreiro.
Ferreiro de que?
Ferrolho, faca, facão, faconete, ferradura, fechadura.
Porque veio parar em São Paulo?
Falta fábricas Fortaleza.
O senhor tem estudos?
Fiz forjaria.
Veio de carro?
Fusquinha.
Preenchida a ficha, Sô. Faustino acomodou as tralhas no quarto e rapidamente reapareceu pra rangar.
Dª. Flora de novo perguntou:
o senhor quer almoçar?
Fineza.
O que quer?
Feijão, farinha, feijoada, farofa,frango frito.
Depois de encher o bucho e tomar um litro e meio d’água, é interpelado mais uma vez por Dª. Flora:
quer café?
Faça favor, disse o cabecinha.
Acreditando esgotado o exótico léxico do viandante, quis saber:
O café tá bom?
Mostrando ainda bala na agulha, ele respondeu negativamente balançando a cabeça:
fraco, frio, formiga fazendo farra fundo.
Qual o seu gosto?
Forte, fervido.
Diante de um freguês com tamanha facúrdia em frasear o efe, Dª. Flora acabou por desafiar, com flauteio, o falante finório, a falar mais dez palavras de igual teor, pelo que estaria quite o primeiro mês de diária, incluindo refeições, caso ele fluísse. Mais que depressa, mostrando um sorriso farto, o cabeça chata arrematou:
Fica fria Flora, foste formidável, fazendo fiado fico freguês!
Dª. Flora de imediato corrigiu: foram nove, falta uma!!!
No que Faustino completou:
Foda-se.
Fui...
e o efeminado - aquí, o que tem mania de efe - saiu ajeitando o couro na cabecinha chata, à procura de serviço.
Dª. Flora ficou admirada por aquela sua faceta de facécia.
Dalí pra frente ficou sua fã e o cabecinha, por sua vez, mais que um hóspede freguês; um freelance para os que passavam pela casa.


Afonso Rego e Toninho Passatempo
Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 01/12/2009
Reeditado em 13/04/2012
Código do texto: T1955310
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