A TROCA - Dueto com Guilherme Sodré

A TROCA

A Cegonha Atrapalhada

Deus vai preparando as crianças no forno e quando a bolinha de massa sobe no copo, é que a fornada está pronta... Daí, o Altíssimo invoca um anjo e ele procura, voando nas nuvens, uma cegonha, pega-a com carinho pelo pescoço e diz:

- Vai lá cegonha, este cabeçudinho aqui vai nascer nos anos 50 e este branquinho, deixa-me ver... Nos anos 80. Tá certo?!

A cegonha acenou com aparente atenção... Voou pelo céu , toda desengonçada, era de fato a cegonha mais atrapalhada da frota. Entre tropicões e esbarrões ela finalmente chegou no primeiro destino. Deu uma parada pra ver os primeiros dribles do menino Pelé e seguiu viagem... Quando ela passou pelo Sul, naquele frio arretado, tremeu tanto, tanto, que deixou, sem querer, cair a primeira criança... Voou corrida dali, antes que congelasse e foi pra próxima etapa... Nos anos 80, ela achou tudo engraçado, os punk's, os militares e até mesmo os fios dentais, cegonha danada... Resolveu concluir logo seu trabalho e deixou a segunda criança nesse inferno de tempo e lugar... E foi pra praia se bronzear... Só depois dessas férias, que ela mesmo se presenteou, que a ave bisonha se deu conta da trapalhada que fez... - Meu Deus, troquei as crianças!!!

Mais...

O Mariozinho cresceu perdido, não entendia tantos pingos nos "is" , não compreendia o motivo para limitar o amor, para não se amar livremente, sem pudor... Achava que o amor estava na alma, mas a maioria o usava no corpo, e muitas vezes o usavam de forma errada, ou até mesmo chamavam de amor o que não era amor. Pobre menino sofreu um monte por amar demais e ainda sofre, acho que esqueceram sua alma gêmea lá atrás quando o tiraram do forno.

Com mais...

Já o Gui, em sua infância foi tudo bem, tinha uma pimenta na bunda, divertia-se como ninguém... Mas à medida que ia crescendo, inclusive seu coração, o mundo em vão, sem limites... Os romances na horizontal, antes mesmo de uma paquera, de uma seresta, de um buquê de rosas, toda essa história desregulada, o deixava confuso, em parafusos e sem gosto de viver... Mas ele era uma das poucas almas puras que é dificil de encontrar pela terra. Mais parecia um anjo perdido pela terra vestido de gente...

É, mas...

É, mas um dia os bebês trocados se encontraram e reataram aquela amizade que os ligava, na época do forno no céu. Só que o Mário muito mais vivido e, sofrido, por viver em tempo errado, ajudou o Guilherme, a se acertar no tempo, a entender melhor a vida e ser um pouco como ele, pra não sofrer tanto, um anjo que mais parecia um extra-terrestre nesse planeta moderno... E os filhos de Deus, mesmo distantes um do outro, reataram todo o amor que os unia quando eram apenas anjos...

Final...

Enfim... A cegonha se atrapalha, a gente se confunde. Mas Deus sempre tem um final feliz pra quem merece...

Guilherme Sodré

A TROCA

Quando você nasceu

Eu já tinha vivido tudo e

O que diz que sofreu

Eu vivi de uma outra forma...

Estou falando de almas-irmãs

Almas que tem dificuldades em viver só

E que quando se encontram

Não querem mais se separar...

E por culpa daquela cegonha atrapalhada

Os amigos-irmãos gêmeos ficaram longe

E hoje mesmo distantes

Um é a bússola do outro...

Mas Deus sempre sabe o que faz

E para meninos tão comportados

Abriu portas, abriu janelas

E abriu seus braços...

Mário Feijó

19.08.09

MARIO ROGERIO FEIJO
Enviado por MARIO ROGERIO FEIJO em 20/08/2009
Código do texto: T1764100
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