A TROCA
A Cegonha Atrapalhada
Deus vai preparando as crianças no forno e quando a bolinha de massa sobe no copo, é que a fornada está pronta... Daí, o Altíssimo invoca um anjo e ele procura, voando nas nuvens, uma cegonha, pega-a com carinho pelo pescoço e diz:
- Vai lá cegonha, este cabeçudinho aqui vai nascer nos anos 50 e este branquinho, deixa-me ver... Nos anos 80. Tá certo?!
A cegonha acenou com aparente atenção... Voou pelo céu , toda desengoçada, era de fato a cegonha mais atrapalhada da frota. Entre tropicões e esbarrões ela finalmente chegou no primeiro destino. Deu uma parada pra ver os primeiros dribles do menino Pelé e seguiu viagem... Quando ela passou pelo Sul, naquele frio arretado, tremeu tanto, tanto, que deixou, sem querer, cair a primeira criança... Voou corrida dali, antes que congelasse e foi pra próxima etapa... Nos anos 80, ela achou tudo engraçado, os punk's, os militares e até mesmo os fios dentais, cegonha danada... Resolveu concluir logo seu trabalho e deixou a segunda criança nesse inferno de tempo e lugar... E foi pra praia se bronzear... Só depois dessas férias, que ela mesmo se presenteou, que a ave bisonha se deu conta da trapalhada que fez... - Meu Deus , troquei as crianças!!!
Mais...
O Mariozinho cresceu perdido, não entendia tantos pingos nos "is" , não compreendia o motivo para limitar o amor, para não se amar livremente, sem pudor... Achava que o amor estava na alma, mas a maioria o usava no corpo, e muitas vezes o usavam de forma errada, ou até mesmo chamavam de amor o que não era amor. Pobre menino sofreu um monte por amar demais e ainda sofre, acho que esqueceram sua alma gêmea lá atrás quando o tiraram do forno.
Com mais...
Já o Gui, em sua infância foi tudo bem, tinha uma pimenta na bunda, divertia-se como ninguém... Mas à medida que ia crescendo, inclusive seu coração, o mundo em vão, sem limites... Os romances na horizontal, antes mesmo de uma paquera, de uma seresta, de um buquê de rosas, toda essa história desregulada, o deixava confuso, em parafusos e sem gosto de viver... Mas ele era uma das poucas almas puras que é dificil de encontrar pela terra. Mais parecia um anjo perdido pela terra vestido de gente...
É, mas...
É, mas um dia os bebês trocados se encontraram e reataram aquela amizade que os ligava, na época do forno no céu. Só que o Mário muito mais vivido e, sofrido, por viver em tempo errado, ajudou o Guilherme, a se acertar no tempo, a entender melhor a vida e ser um pouco como ele, pra não sofrer tanto, um anjo que mais parecia um extra-terrestre nesse planeta moderno... E os filhos de Deus, mesmo distantes um do outro, reataram todo o amor que os unia quando eram apenas anjos...
Final...
Enfim...
A cegonha se atrapalha, a gente se confude. Mas Deus sempre tem um final feliz pra quem merece...
Fim!!!
Guilheme Sodré
(Obrigado Mario Feijó por essa linda parceria, espiritualizada... Adorei fazer este conto, brincando com as nossas histórias...)
...
A TROCA
Quando você nasceu
Eu já tinha vivido tudo e
O que diz que sofreu
Eu vivi de uma outra forma...
Estou falando de almas-irmãs
Almas que tem dificuldades em viver só
E que quando se encontram
Não querem mais se separar...
E por culpa daquela cegonha atrapalhada
Os amigos-irmãos gêmeos ficaram longe
E hoje mesmo distantes
Um é a bússola do outro...
Mas Deus sempre sabe o que faz
E para meninos tão comportados
Abriu portas, abriu janelas
E abriu seus braços...
Mário Feijó
19.08.09
(ao amigo-irmão Guilherme com meu carinho e amor fraterno)