DEPRESSÃO A QUATRO MÃOS
As vezes amanheço assim
com a postura de dizer sempre sim
acordo com a vontade de chorar.
Surpreendida a vida com um vazio
profundo como o cerne do precipício
faz voltar a ser criança,
faz brincar com o perigo
em inesperados solavancos qualquer
então o simples ato do zelo
proclamado com o maior cuidado
"volte aqui minha criança
não chegue muito perto de lá"
perde muito mais que um abrigo
nesse intuito de proteger o amigo
retira toda a curiosidade
instinto presente na sagacidade
na saudade, na lembrança
no olhar que penetra da criança
encarando com ternura o precipício
que a retorna fundo a sua curiosidade
no íntimo, no seu olhar, no seu querer,
penetrante, frio e atento
o abismo busca o calor de um alento
procura além do ato protetor do cuidado
caminhando ao redor, olhando parado, fixo
do que está em cima, estar ao lado
estar no fim, ao meio e ao início,
cerne uno, da criança, do precipício
encontrando no olhar atento o recomeço
as vezes quando amanheço a minha vida assim
com a postura de dizer sempre sim
acordo com a vontade de chorar.
(com Lu Araújo)