DEPRESSÃO A QUATRO MÃOS

As vezes amanheço assim

com a postura de dizer sempre sim

acordo com a vontade de chorar.

Surpreendida a vida com um vazio

profundo como o cerne do precipício

faz voltar a ser criança,

faz brincar com o perigo

em inesperados solavancos qualquer

então o simples ato do zelo

proclamado com o maior cuidado

"volte aqui minha criança

não chegue muito perto de lá"

perde muito mais que um abrigo

nesse intuito de proteger o amigo

retira toda a curiosidade

instinto presente na sagacidade

na saudade, na lembrança

no olhar que penetra da criança

encarando com ternura o precipício

que a retorna fundo a sua curiosidade

no íntimo, no seu olhar, no seu querer,

penetrante, frio e atento

o abismo busca o calor de um alento

procura além do ato protetor do cuidado

caminhando ao redor, olhando parado, fixo

do que está em cima, estar ao lado

estar no fim, ao meio e ao início,

cerne uno, da criança, do precipício

encontrando no olhar atento o recomeço

as vezes quando amanheço a minha vida assim

com a postura de dizer sempre sim

acordo com a vontade de chorar.

(com Lu Araújo)

SB Sousa
Enviado por SB Sousa em 30/12/2008
Reeditado em 30/12/2008
Código do texto: T1359104
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