MIRAGEM e ALUNAGEM
MIRAGEM
Sandra Ravanini
Recebo as lamúrias imperiosas,
sangrando o aço frio do meu cinzel,
ceifo a erva vestindo uma rosa,
devolvendo a pedra e o falso anel.
Ouso os caminhos das acácias
se o meu sonho acorda o esmero,
enquanto me resta a contumácia
sustento o anil dos meus mistérios.
Do heroísmo ao juramento,
constato o fim dessa proeza,
dobrada ao meio ante a frieza.
Pouso suave no esquecimento,
uma miragem em meio à duna,
desprezo a mó, sou menos uma.
*****
ALUNAGEM
José Carlos Lopes
Recolho vossas flores piedosas
e refaço o meu semblante em troféu,
razão das vossas misericordiosas
novenas espalhadas ao léu.
Se caminho a trilha da audácia,
também soube destruir castelos
sob a sonoridade da falácia
transtornando o vento em mil fLagelos.
Soergo estoico os fundamentos
de uma aliança e fortaleza
entre a tristeza e a agudeza.
Do crematório os sentimentos
renascerão em pálida bruma
como faustoso brilho que aluna.