EM SALA DE AULA
Eu, a aluna.
Mathias, meu professor.
Sempre em meio a aulas que considerava entediantes e matérias que, modéstia à parte, já sabia na ponta da língua, mantinha escondidinhas cadernetas sob a carteira ou dentro dos livros.
Nelas ia escrevendo poemas, pensamentos, o que me desse na "telha".
Ora engraçados, ora nem tanto...
Ora distribuídos entre as amigas, ora mantidos em sigilo...
Pensava enganar os professores e quase sempre conseguia, mas vez ou outra distraída
demais e olhando para o teto ao invés de ao menos fingir que prestava atenção na aula,
me entregava.
Encontrei hoje entre meus papéis o que para mim é "tesouro".
Um flagrante de meu professor Mathias.
Quis saber o que eu estava fazendo
e gaguejando entreguei a ele
o papelzinho onde acabara de escrever texto de adolescente sonhadora.
Nunca consegui esconderminha face rubraao ser descoberta...
Ainda não consigo...
Meu textinho numerado como 16 (onde foi parar o restante nem imagino!) é:
"De repente tudo o que se sonhou se desfaz
e sopra um vento gelado que parece
querer matar toda a vida que se criou.
No entanto, uma leveza n'alma se irradia
e o Sol não deixa de apontar a cada manhã.
Apenas o Mar incomoda, grita e me chama
cada vez que piso em sua areia macia."
MarCela Torres
Ao final da aula meu professor,
sorrindo,
entregou-me texto que pra sempre guardarei:
"À jovem feliz, Marcela:
Na esperança que não passes apenas de ano escolar e temporal é que lhe desejo a maior esperança:
De que surpreendas o mundo e que apareça um novo Ser.
Ser capaz de ser um Ser a fim de que consiga ser FELIZ"
Cordialmente,
"A Paz de Cristo"
Mathias
11/novembro/1982
Na época, reuni os dois bilhetes em um só pedaço de papel.
De um lado, meu bilhetinho...
Do outro o de meu professor (que nem de Língua Portuguesa era...) e os colei carinhosamente
em um só documento,
uma só recordação.
DUETO SIM!
DUETO ENTRE UMA ALUNA PRECOCE, REBELDE E SEU QUERIDO E INESQUECÍVEL MESTRE!
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