Árvore e o Pássaro

Adeus! Eis que o céu se afogueia;

O ocaso caprichoso está por vir...

Pelo mundo ruflarão as asas minhas

Antes - até mesmo - da noite cair.

Ora, não se entristeça;

Volverei a ti novamente!

Pois ninguém deixa um amigo

E não volta eternamente!

Que será de mim, ingrato amigo?

Não vês que me cativaste?

Há dois dias que vivo,

Pois nasci quando chegaste.

Sou formosa e majestosa

De que me aproveita, porém?

Se tu és o meu agrado

Mas não queres viver aquém.

Bela! Descansa, não a deixarei.

Sem ti, que seria de mim?

Pois a mim muito admira

Que tenhas me cativado assim.

Não sei o que é prisão:

Sou andante peregrino!

Como vivo pelos ares,

Nem mesmo sei meu destino...

Viajante alado, tuas palavras

Em mim são como um punhal!

Não sejas intransigente

Nem egoísta como tal!

Que quereis, pois, indo além?

Acaso estás farto dos orvalhos

Que tens tomado, à noite,

Dormindo cá nestes galhos?

Não resta tempo para dizer

O quanto és tu importante!

Mas não penses, não imagines

Que estou sendo farsante!

Chega o ápice do ocaso

Minhas asas põem-se a ruflar...

Até breve, companheira;

Até o dia em que eu voltar!

Adeus, amado itinerante...

Nunca hei de ver-te outra vez!

Nem mesmo me resta a esperança

De um possível talvez!

Pois bem! O mundo é tua morada...

Se me amaste, não sentes agora

Por mim, amor algum...

Adeus, então, ave canora!

*

Passaram-se dias? Anos, por certo!

E o que foi feito de ti?

Sinto que chegou a hora

De cumprir com o que prometi!

Voltarei hoje mesmo a ela,

Pois a saudade me consome...

Amá-la mais, nem mesmo posso

E sequer sei o seu nome!

*

Eis-me aqui! Mas onde estás?

Nada vejo sobre o chão

Senão uma ausência austera

Que quebranta meu coração!

Antiga e verdadeira amiga,

Perdoes minha negligência

Perdoes o meu egoísmo

Minha impensada intransigência!

Morreste sem que eu viesse

Ao teu encontro de novo!

Mas, prometo-lhe que agora

Deste lugar não me movo;

Morreste à minha espera

Foi mui má a tua sorte...

Agora somos dois amantes

Separados pela morte!