Duo de Solidão
Um canto de solidão a duas mãos
Nalva & Hilde
Hoje olhei para o meu próprio olhar
Eu vi bem no fundo dos meus olhos...
A minha imagem saindo lá de dentro
Vindo à minha direção... Chamando-me
E não era um sonho... Nem pensamento
Era um poema aquecendo o momento
Foi tão triste... Vê-lo aqui aparecendo
Numa forma tão intensa... Pelo brilho...
Só me resta embebedar-me de silêncio
Na súbita perplexidade me adentrando
Pela mente incessante... Aprofundando...
Os sentimentos que andam me invadindo
Nele... Vejo os lamentos que até então
Não me havia permitido ver pela solidão
Por não ter parado para ver a situação
Como mesmo me encontrava... Sem ação
Então me tomei de súbita perplexidade
Posto que ali vi um ser só! Na ansiedade
Desconhecido! Diverso do perfil desenhado
Ao revés das alegrias dantes demonstradas...
Senti nas faces uma dor resignada, quase serena
Como se lágrimas rolassem quentes... Almas adentro...
E autorizei-me um traço do egoísmo de poder sofrer
Atormentado pelas injustificadas dores e saudades
Sim... Sei que são meramente sentimentais...
Sinto a noite adentrando e formulando
Um céu sem lume... Nem vaga-lume
Que coloque qualquer brilho que ilumine
E deixo-me levar... Embora forte e doce
Embora... Não vislumbre chave que abra
Possa libertar-me do que sinto de agonia...
Não imaginei experimentar tamanha tristeza
Antes dos revolucionários contentamentos...
E o gosto que me restou desses momentos
Foi tão intenso quanto sutil... Acorrentando
Numa miscelânea de dúvidas... Assaltando
Implacáveis insistem viver me condenando
Furtando argutas respostas ao sofrimento
Eternamente impalpáveis... Delatando...
Os pedaços desencaixados desta vida
Tal que nunca me bastou dar guarida
Porque dela não me sirvo nem completo...
Por isso sondo este canto em desarmonia
Compassos acéfalos, contracantos desafinados
Arranjos desentoados a tragar-me os ouvidos nus
E essa vontade de ir embora de mim, voar ao céu
Fugir ao nada desse acorde dissonante que ensurdece
Dor apavorante que presenciei da visão que esmaece
De o marejante olhar, fraquezas que outrora...
Nunca me permiti... Ir tão fundo, bem profundo
Portanto esta melodia a se impor em solo voraz
É medonha! Sinfonia nos tablados do inquieto...
E inconformado existir que elegeu esta voz rouca
Inexpressiva e sem descanso pra este canto de ser só
De não partir nem de ficar, feito arranjo inacabado...
Inesperado, sem autor, e eleito curvo-me às notas
Que se impõem sem piedade... Andando soltas...
No esforço desesperado de expressar o que é sentir
A lancinante solidão calada que insiste em invadir.
Duo: Nalva & Hilde
Ednalva Ferreira e Hildebrando Menezes