DIZERES ÍNTIMOS-Florbela Espanca /Maria Thereza Neves
DIZERES ÍNTIMOS
Florbela Espanca
É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!
E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
Mãos de brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!
E ser-se novo é ter-se o Paraíso
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!
E os meus vinte e três anos...(Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir "Que linda a vida!..."
Responde a minha Dor: "Que linda a cova!"
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DIZERES ÍNTIMOS
Maria Thereza Neves
É tão triste a poesia morrer em mim!
Debruço lágrimas na janela da saudade,
Quando vejo que é chagado meu fim ,
Mesmo não sentindo tão velha assim !
E vou sempre lembrar das noites,
Que percorria a relva macia ,
Criando fantasias, vendo duendes,
Luas, estrelas e o sol que sorria!
O paraíso morava dentro de mim ,
Não sabia que os dias despendiam,
A poesia chegava ao derradeiro fim!
Ressuscito, volto a vida ,vejo a cova
A lápide gravada, triste dizia ;
Que pena, morreu, era tão nova!
27/06/08