ARVORE DERRUBADA

ÁRVORE DERRUBADA

Era só mais uma, dentre tantas árvores plantadas

na grande avenida, mas que estava caída, cortada

em pedaços, os galhos secos, as flores murchas,

as pétalas sem fragrâncias mostrando a vida

vegetal extinta. No meio da avenida, em seu

canteiro projetado ao plantio e preservação

de árvores, de repente amanheceu sem uma

delas. A árvore, que dava sombra, que abrigava

as aves cantantes, que inspirava os poetas,

que contribuía com a qualidade de vida na cidade,

deixou de existir, gerando um vácuo arbóreo,

sentido com tristeza e decepção pelos transeuntes,

de pé ou motorizados, que tinham o hábito

de passar por aquela relevante via urbana.

As florestas nativas, hoje em dia, tão escassas,

sofrem há muito tempo com o desmatamento

crônico, enquanto as cidades valorizam cada

vez mais as selvas de pedras, em detrimento

de maiores espaços de áreas verdes urbanas,

em prol do saudável plantio e conservação

de árvores frondosas. Ninguém sabe o motivo

que levou a prática de ato tão reprovável.

A árvore estava saudável. Oferecia saúde

ambiental a cidade. No trecho onde ela

se situava, o trânsito fluía tranquilo. Ao longo

do canteiro central, elas foram plantadas

de tal forma organizadas, que o espaço

do balizamento não causaria atrofia em seus

crescimentos. Elas estavam, inclusive, bem

podadas, realçando a beleza do visual

paisagístico. Uma multidão interrompeu

o trânsito por algumas horas. No toco que

restou da árvore derrubada, uma outra

simbólica foi replantada. Faixas, cartazes

foram erguidos, críticas foram feitas pelos

manifestantes, indignados com o descaso

de tamanha ação repulsiva, da parte

do poder público insensível ao bem-estar

dos munícipes. Infelizmente, todos vieram

a saber depois, que um novo Secretário

de Obras e Desenvolvimento Urbano, por mera

questão de interesses políticos mesquinhos,

assumiu a pasta sem qualquer preparo

e capacidade profissional, pois não era

Engenheiro nem Arquiteto. E, dentre as suas

trapalhadas, aberrações urbanísticos, sem

qualquer estudo prévio de engenharia,

ordenou que a tal árvore fosse derrubada,

para que em seu lugar fosse feito um acesso

de retorno, como opção de atalho para o tráfego

que quisesse voltar pelo outro lado da via

paralela. Enfim, estando incapaz para assumir

a pasta, inexperiente e precipitado, talvez

até querendo mostrar serviços pela pasta

que assumiu, só após o erro cometido,

viu que o tal retorno planejado por ele,

já existia, mais na frente, ao longo

da bela e movimentada avenida, e que outro,

idealizado por ele, era desnecessário.

Reconhecendo o equívoco, ele próprio,

o Secretário trapalhão, decidiu plantar

uma nova árvore, no mesmo lugar

da que ele mandou derrubar, antes que

o novo retorno fosse feito, tanto exigido

pelo povo, como pelo Prefeito interesseiro,

que lhe ofereceu o cargo, apenas por

compromissos políticos- partidários.

O Secretário, no entanto, muito envergonhado

pelo triste fato que lhe ocorreu, a despeito

de já ter cometido outros erros, em tão pouco

tempo de admitido, pediu demissão do cargo.

Aos amigos mais íntimos ele contou que não

consegue se livrar do pesadelo que tem com

frequência, com o povo ameaçando-o de lincha-lo,

lhe chamando de destruidor de árvore,

bem como de ser nocivo ao bem-estar do povo,

hostilizando as boas ações ambientais, que

dão saúde e preservam as áreas verdes urbanas.

Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 10/12/2019
Código do texto: T6815405
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