NÃO TENHO AMOR PRÓPRIO
Caso me traísses; me dilacerasses,
Daria de ombros, sem qualquer disfarce.
Dou-me sem recato, sou leal torpedo:
Não ter amor próprio; esse é o meu segredo.
Caso me agredisses; caso golpeasses,
Por que não devia oferecer-te a outra face?
Ofereço o braço a quem pede dedo:
Não ter amor próprio, esse é o meu segredo.
Mesmo se mentisses ou sequer falasses,
Faria canção do seu silêncio; meu enlace.
Sou a faca cega no teu arvoredo:
Não tenho amor próprio, esse é o meu segredo.
Se, de novo, tu, por um capricho, me trocasses,
Ficaria aqui, paralisado nesse empasse:
Sem querer medalhas; sem querer brinquedos;
Sem ter amor próprio; sem guardar segredos.