QUANDO ESTOU COM FOME

Quando Estou Com Fome

Quando estou com fome, faço poesia,

melhor dizendo, faço algum poema.

Porque a poesia quando me chega,

não quer saber qual a minha fome.

Não quer saber se o meu estômago

está vazio da comida que me nutre.

A poesia, quando me chega, faminta

de expor-se para mim, só quer

que lhe mate a fome de doar-se

para algum poema que decerto

farei, mesmo que sinta outra fome:

a que dói o estômago, a que faz

tremer as mãos, as pernas, a que

dá ânsia de comer, a que dá preguiça

de se pensar em qualquer coisa,

a não ser de matar a própria fome.

Às vezes, até quando estou comendo

ela me chega e me fala baixinho

nos ouvidos poéticos: "amigo poeta,

já estou aqui, bem pertinho de você;

eu sei que você está comendo,

matando a sua fome, mas bem

sabe que dentro de você, existe outra

fome que você gosta de saciar:

a de escrever poemas. Por isso, eu,

a poesia, estou aqui, também

matando a minha fome de lhe doar

algum motivo, alguma visão

que se transforme em linguagem

poética, que vire um poema."

Por fim, durante a minha fome

de comer algum alimento, e a fome

da poesia em doar-se para mim,

a dialética da fome resultou num poema.

Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 04/12/2019
Código do texto: T6810500
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