A QUIETUDE NOS CAMPOS
A QUIETUDE NOS CAMPOS
Gosto de estar na quietude dos campos,
só ouvindo o que o silêncio me fala.
Passa um camponês montado num cavalo.
Retraído, acena-me com uma das mãos.
Deixa que o mero gesto de me saudar,
seja a sua fala, apoiada na mudez campestre.
Traz-me o silêncio, o diálogo sutil dos peixes
no fundo do rio, no aprazer dos acasalamentos
aquáticos. Traz-me as falas corriqueiras
das almas que, do outro lado da vida,
aprazem-se unidas, sentadas nas sombras
debaixo das árvores frondosas. Traz-me
as decisões instintivas das formigas operárias,
acerca de suas atividades cotidianas,
dentro e fora de algum formigueiro. Traz-me
o toque do vento nas flores, junto com
a suavidade de suas fragrâncias silvestres.
Traz-me o cheiro de terra seca, depois
que o sol escondeu-se e permitiu que a chuva
caísse por alguns instantes amenizando o verão.
O silêncio amplo e profundo, traz-me outras
coisas, outras situações comuns, mas que estão
fora do alcance de meus olhos, de meus ouvidos,
que não podem caber num só poema.
Gosto de sentir a quietude nos campos,
porque neles a poesia se revela discreta,
para que lhe perceba a paz espiritual.
Para que o poema se construa silencioso,
captando a linguagem das almas que
o intuem, com suas preciosidades poéticas.
Adilson Fontoura