POÉTICA LENTIDÃO
Flui de mim a poesia tão lenta,
nessa tarde quente de verão;
flui do calor que a inventa;
queima qual sol do sertão.
Flui da água tão barrenta
do rio, repleta de poluição;
ao longo da orla poeirenta,
já morre a tarde que não venta;
mas venta agora na noite de verão.
Traz o vento, os versos anoitecidos,
com cheiro azedo de maresia;
em meio ao silêncio dos pássaros
recolhidos nas árvores, tão sonolentos,
à espera do novo dia. E a poesia,
agora envolta no aroma mavioso
do vento noturno, apraz-se com
a presença da paz trazida por Deus;
e o poeta sente pelo olfato, o encanto
dos bons sentimentos que os seres
angélicos lhe deramam na consciência,
oriundos dos excelsos céus.