Cartas portuguesas

01. Senhora,

cá nesta capitania

de Pernambuco

foi vossa alteza

servida de enviar

mil flores de craveiros

mui rubras à terra chã.

Trouxe-as a dita nau

com o carregamento

dos escravos d'Angola.

Murcharam-se todas, eu sei

coas pétalas levadas

polo mar até Calicute;

por isso seja servida ordenar

que se procure presto

um caminho no além-mar

até o dito nosso reyno

afim de, por mercê,

vossos olhos contemplar.

Deos guarde-vos muitos anos...

02. Senhor,

enviou-vos a dita nau

os cravos que vos mandei.

Estes, porém, perderam-se

aquém das águas bravias

desta Terra de Santa Cruz.

Lá não se passará sede,

não se naufraga junto aos peixes.

Portanto seja vossa mercê

descuidado em procurar

nos caminhos de ultramar

as ditas flores minhas.

Deixo mandadas enterrar

como uma memória formosa

que cá está a navegar

um caminho que até vós, senhor,

assim como está.

Que Deos guarde-vos sem prantos

nos certões deste lugar.

Obs: Algumas palavras tem grafia antiga.