Expressando-me

Por vezes o silêncio escandaliza-me de tal modo que me faz desejar intensamente a presença de multidão e algazarra. Sinto necessidade de ouvir gritos e vozes, mesmo aqueles que existem apenas em minha imaginação e são, portanto, desprovidos de corpo e rosto.

Odeio sobre tudo a petulância da quietude, a qual diz ser superior a todas as palavras vãs. Podem ser denominadas “vãs” as palavras que suavizam os espíritos aflitos, quando estes se permitem confessar segredos que outrora os faziam reféns?

Levantarão contra mim, sem dúvida, os defensores do mutismo, munidos de desculpas mil. Digam eles o que desejarem, conquanto não me obriguem a aceitar sua teoria de que a omissão é uma senhora piedosa, a qual alivia o sofrimento afogando seus protegidos na mais completa ignorância.

Assumo que já desejei muitas vezes tornar-me cega diante das verdades capazes de me ferir profundamente, mas agora vejo o quanto esta auto-piedade é traiçoeira, pois me leva a criar esperanças sobre coisas que jamais terei.

Só deseje o silêncio quando realmente não houver mais nada para dizer...

Larissa Lopes
Enviado por Larissa Lopes em 17/05/2008
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