Bento XVI - Escuridão ou Tradição?
Bento XVI e sua postura teológica
Cidade do Vaticano, Bento XVI criticou fortemente o ateísmo moderno na segunda encíclica de seu papado, dizendo que ele tem levado a "uma das maiores formas de crueldade e violações da justiça" conhecidas pela humanidade.
O papa também questionou o cristianismo moderno, que para ele ao se concentrar na salvação individual ignora a mensagem de Jesus de que a verdadeira esperança cristã envolve a salvação de todos
"Salvos pela Esperança" é uma profunda exploração teológica da esperança cristã no pós-morte:que no sofrimento e miséria do cotidiano, o cristianismo oferece ao fiel uma "jornada de esperança" para o Reino de Deus.
"Temos de fazer todo o possível para superar o sofrimento, mas bani-lo do mundo não está em nosso poder", escreveu Bento. "Apenas Deus é capaz de fazer isso".
No documento de 76 páginas de sua segunda encícica, o papa analisa como o entendimento cristão da esperança mudou nos tempos modernos, quando o homem buscou aliviar o sofrimento e injustiça ao seu redor. Bento destaca dois levantes históricos: a Revolução Francesa e a revolução proletária instigada por Karl Marx.
Bento critica duramente Marx e o ateísmo dos séculos 19 e 20 disseminado por sua revolução, apesar de reconhecer que ambos respondiam a profundas injustiças da época.
"Um mundo marcado por tanta injustiça, pelo sofrimento de inocentes e pelo cinismo do poder não pode ser o trabalho de um bom Deus", escreveu. Mas a idéia de que o homem pode fazer o que Deus não pôde criando uma nova salvação na Terra era "tanto presunçosa quanto intrinsecamente falsa".
"Não é acidente que essa idéia levou às maiores formas de crueldade e violações da justiça", afirmou. "Um mundo que tem criado seu própria justiça é um mundo sem esperança".
Ele citou especificamente o revolucionário russo Lenin e a "fase intermediária" da ditadura do proletariado que Marx via como necessária para se alcançar uma sociedade justa, comunista.
"Esta 'fase intermediária' conhecemos muito bem, e também conhecemos como ela tem evoluído, não trazendo um mundo perfeito mas deixando para trás um rastro de destruição assustador", escreveu Bento.
Ao mesmo tempo, o papa lança um olhar crítico na forma como o cristianismo moderno tem respondido aos tempos, dizendo que tal "autocrítica" também era necessária.
"Temos de reconhecer que o cristianismo moderno, diante do sucesso da ciência em estruturar progressivamente o mundo, tem em larga margem restringido sua atenção ao indivíduo e em sua salvação", continuou. "Desta forma, ele tem limitado o horizonte de sua esperança e não tem conseguido perceber a contento a grandeza de sua tarefa".
"O conceito cristão de esperança e salvação nunca foi tão egocêntrico", frisou.
Citando as escrituras e teólogos, Bento disse que a salvação nos primórdios da igreja era considerada "comunitária" - ilustrando seu ponto usando o caso dos monges na Idade Média que se enclausuravam em oração não apenas para sua própria salvação, mas pela dos outros.
"Como pode ter desenvolvido a idéia de que a mensagem de Jesus é egoisticamente individualista e visando apenas cada pessoas em si? Como chegamos a esta interpretação de 'salvação da alma' como uma fuga da responsabilidade pelo todo, e como chegamos ao ponto de conceber o projeto cristão como uma busca egoísta de salvação que rejeita a idéia de servir aos outros?" questionou.
Buscando respostas, ele também destacou que existem formas de os fiéis aprenderem e praticarem a verdadeira esperança cristã: na oração, no sofrimento, no agir e entendendo o Julgamento Final como um símbolo de esperança.
"Salvos pela Esperança" segue-se à primeira encíclica de seu papado: "Deus é Amor", divulgada no ano passado. Com as duas encíclicas, os documentos mais impositivos que um papa pode emitir, Bento explorou duas das três virtudes teologais cristãs: fé, esperança e amor (caritas).
O fato é que uma parte dos católicos rejeitaram a postura do pontífice alemão. O papa pede uma maior atenção ao tradicionalismo e disfere muitas crítcas, seja ao Islamismo, ao Marxismo, ou até mesmo ao Ateísmo. Claramente o papa não possui o mesmo carisma de seu antecessor o papa João Paulo II, e muito menos tem a mesma aceitação do pontífice polonês. Tomei contato com as eníclicas papais publicadas até agora e não me agradou muito nenhuma das duas.
Este Papa, que quer redefinir razão de forma a ser apenas coincidente com catolicismo, isto é que se arroga a ser apenas ele o detentor do pensamento racional - e apenas ele porque, como indicam fontes próximas do Vaticano, este Papa absolutista que escreve os seus próximos discursos, não admite críticas e despede ou exila quem não partilha a sua "racionalidade" - que confunde os nossos valores civilizacionais com relativismo, que os continua histrionicamente a condenar como loucura e erro não é o defensor da civilização ocidental contra o "perigo muçulmano" como muitos agora apregoam!
Nós não vivemos um choque de civilizações no sentido de Huntington, vivemos um choque de civilizações em que de um lado estão os fundamentalistas de todas as religiões, unidos numa causa comum contra a modernidade e suas "imoralidades". O choque de civilizações é o choque da civilização moderna com a civilização medieval que o obscurantismo das religiões quer impor. Como bem o demonstram os seus protestos uníssonos contra essa modernidade, seja o reconhecimento da mulher como um ser humano de plenos direitos seja o reconhecimento dos direitos dos homossexuais!
Como é óbvio, as pretensões de Ratzinger são incompatíveis com os valores da nossa sociedade e como tal devotadas ao insucesso se este exigisse semelhante disparate aos governos europeus! E o próprio Ratzinger deveria saber perfeitamente que essas pretensões seriam acolhidas da mesma forma que as suas constantes exortações contra os avanços civilizacionais ocidentais: o reconhecimento à saúde reprodutiva das mulheres, da liberdade de expressão, da laicidade, dos direitos dos homossexuais, da independência da ciência dos ditames absurdos do Vaticano, etc..
Não sou defensor de nenhum dos lados, apenas critico. Estando certo ou errado em minhas críticas eu insisto em continuar minha busca pelo esclarecimento longe das verdades impostas. A ciência não é boa, a religião não é boa, o ateísmo não é bom, o socialismo não é bom, enfim, nem tudo é bom, mas também nem tudo é 100% ruim. Não é porque apenas trago à tona o "lado ruim" dos elementos a serem discutidos que eu os refuto totalmente. Todo pensamento, doutrina, raciocínio é válido, nem sempre justo ou lógico. Enfim, peço perdão por qualquer deselegância moral de minha parte mais uma vez.
Aos católicos desde já, deixo essa ressalva: Não sou ninguém para julgar inquestionavelmente a doutrina Católica ou quaisquer outras doutrinas cristãs e nem tenho tal pretensão. Apenas divulgo minha opinião a respeito desse novo velho papa. Acompanhei os rumos teológicos de sua estadia no poder da maior igreja cristã do mundo. Até fui ao seu encontro quando esteve em São Paulo. Participei durante 2 anos de um movimento católico inclusive. Jamais quero ser injusto em minhas colocações, mas também jamais sem sinceridade para com minhas convicções. Aos praticantes e defensores das idéias de Bento XVI, minhas humildes desculpas a respeito de certos comentários, ou colocações agressivas de minha parte. A você leitor, muita luz e compreensão, muito obrigado mais uma vez!