MENSAGEM AO SENHOR PRESIDENTE...

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE:

Acabo de largar meus afazeres domésticos, e corri para a televisão para ver o seu comunicado à nação.

Fui movida por grande e ingênua esperança.

Confesso-lhe que estou emocionada por ter chegado este dia, em que acredito poder expressar meu sentimentos ao chefe da Nação, posto que já vivi numa época em que tal ocorrência me parecia impossível!

Então, aqui faço uso do meu direito democrático de cidadão.

Sei que o senhor provavelmente não lerá essa minha mensagem, a probabilidade é pequena, mas caso o faça, saiba que escrevo como brasileira, como eleitora, como mãe, como dona de casa e como profissional.

E essa minha forte emoção talvez deva-se ao fato de que meu coração nunca se rendeu às amarras políticas.

Tenho a lhe dizer que me decepcionei com a pauta da sua fala.

Num momento em que nós cidadãos de boa fé, que temos "berço e sobrenome", (porque essas qualidades pertencem a qualquer um que tenha família e não necessariamente apenas aos que têm “privilégios” );somos “assombrados” com a denúncia lamentável que envolve os cartões corporativos; minha ingenuidade chegou a acreditar que a pauta de sua fala seria um pedido de desculpas à Nação frente ao nosso susto, no mínimo a prestação das contas, ou um esclarecimento sobre o assunto.

Apostei na transparência.

Eu sei presidente...que o senhor está averiguando, já ouvi dizer...

Mas, o senhor mostrou uma expressão facial de extrema alegria e de tão inabalável tranqüilidade, que cheguei a acreditar que nada vem ocorrendo. Nada de condenável.

Preferi acreditar que seu discurso sobre a educação não tinha como objetivo desviar a atenção do povo das denúncias que pairam sobre a distribuição de créditos no seu governo.

E ainda que já houvesse em outros governos, isso não o isenta da responsabilidade do hoje!

Porque um “chefe” de família tem que saber o que ocorre na sua casa!

Talvez, senhor presidente, se o senhor contivesse a distribuição dos cartões e dos seus referidos limites, assim como tantas outras despesas inúteis financiadas, distribuídas e desperdiçadas por aqueles que não têm o mínimo de respeito com o dinheiro público, o senhor tivesse realmente mais dividendos para o que nos é fundamental, para a sua e nossa tão sonhada “distribuição justa de renda”.,ou para a educação, por exemplo, que hoje o senhor tanto defendeu.

Sabe presidente, sou administradora do lar, e sei o que é priorizar gastos e cortar supérfluos, dentro dum orçamento "programado"!

Aliás, no país, não há melhor consultoria em finanças do que a opinião duma dona de casa da classe média!

Mas presidente, me sinto na obrigação de tentar responder à pergunta que o senhor nos fez!

Não, senhor presidente, mais crianças nas escolas não significa qualidade de ensino.

Sinto lhe decepcionar.O senhor falou que falta muito em educação, e nisso o senhor está com a razão.

Aliás, falta muito em tudo! Educação é só a ponta do iceberg. È a base. Eu que tive o “privilégio” de ir um pouco mais à escola do que a média dos brasileiros, e de amar as letras que me trazem aqui, sei que educação vai além dos bancos escolares.

Eu explicarei ao senhor.

Faltam professores.Faltam salários.Faltam condições sociais de trabalho.Falta segurança nas escolas.Falta logística.Falta seriedade. Falta a verdade, presidente..A verdade em tudo!

Mas também é certo que a verdade sempre aparece. Está na Bíblia, e na imprensa! Não sou eu quem lhe diz!

E o mais grave: a fome, que tanto tem sido combatida pelo senhor, continua a fazer suas vítimas bem pertinho de nós, gerando precoces seqüelas irreversíveis no aprendizado das crianças.

E aqui mesmo na cidade grande. Não estou falando do sofrido sertão.

Sei disso, porque vivencio a tragédia social todos os dias e embora conheça um pouco de sua louvável e vitoriosa trajetória de vida, posso lhe dar aulas de mazelas sociais!

Apenas olhando o nosso entorno...e sem ter passado por elas...ainda!

Sabe presidente, nem todos os brasileiros têm a sua sorte! Trabalham duro...por muito pouco!

E a grande maioria nem percebe que é refém da pobreza.

Apenas movimentam as "urnas" e perpetuam as suas dificuldades...

Mas acredito que na difícil arte de governar uma nação tão grande e complexa como a nossa, pode estar havendo um déficit de informação e comunicação.

Eu acho presidente, que a despeito da sua boa intenção, não estão lhe informando do que ocorre na realidade. Atente para os fatos!

Presidente, acho que está mais do que na hora de o senhor SABER!

A POESIA ENFEITA O SOFRIMENTO MAS JAMAIS EQUACIONA MAZELAS.

Não há como se governar, se gritar pelo social, resolver DE FATO a situação quando se empurra os problemas sob o tapete com belas palavras! Estamos cansados de discursos , presidente!

“Levanta,sacode a poeira e dá a volta por cima”, diz um velho samba! Mas a volta de cima para baixo!

Vá a campo, e verá que não estou mentindo! Abra os olhos, presidente, sobre sua gente...mas enxergue a TODOS! Mesmo àqueles que o senhor julga "privilegiados".

A igualdade, senhor presidente, não precisa de ministérios, porque ela nos é um direito constitucional!

Acompanhe um dia duma escola, e não falo apenas da pública, converse com as mães, com as crianças, com os diretores e professores... e o senhor terá finalmente A SUA percepção da problemática que nos atinge, e do quanto suas palavras de hoje , poderão perder-se ao vento.

O que eu lhe desejo? O melhor, presidente!

Consciência, discernimento, opinião própria, humildade política... e boa sorte!

Talvez eu esteja redundando apenas nessa última.

Enfim, lhe desejo sucesso!

Torço pelo senhor, presidente, porque do contrário estaria torcendo contra o meu país.

RESPEITOSAMENTE.