A Alma Vazia de uma Terra Negra Bebendo Água Fétida de uma Terra Ocidental

A Alma Vazia de uma Terra Negra Bebendo Água Fétida de uma Terra Ocidental

A África, mãe despojada, repleta de riquezas esmagadas sob o peso do saque, jaz silenciosa, como um corpo sem alma. Seus filhos, de pele escura, tão bela quanto o ébano, têm seus rostos voltados ao Ocidente, onde o brilho enganoso promete escapar da miséria. Mas que custo tem este êxodo?

Cem anos se passaram desde que nossos ancestrais tiveram seus corpos acorrentados e seus espíritos despojados. As correntes, antes de ferro, agora são invisíveis – alimentadas pela pobreza, pelas guerras fratricidas, pela ganância daqueles que ocupam tronos de falsidade política. Os novos mestres não vêm com chicotes nas mãos; vêm com contratos, empréstimos, sanções. Amarram a África com promessas que secam suas lágrimas, mas esgotam seus rios.

Nos portos das cidades cinzentas da Europa, os herdeiros de reis e rainhas lavam pratos. Trocam o suor do trabalho forçado de antigamente pelo suor frio do desprezo. "Imigrantes", eles chamam, como se houvesse escolha. Uma escolha que, de fato, nunca tiveram. O que fazer quando o solo natal não dá pão, mas explora até a fé que resta?

E no âmago dessa luta, há outro tipo de troca brutal. Jovens corpos negros, adornados por traços que inspirariam escultores, vendem sua dignidade para ter uma chance na terra do outro. Roupas finas, apartamentos pequenos em cidades grandes. Apenas ecos vazios do que um dia foi orgulho. O beijo de um estrangeiro, comprado por noites que jamais se apagarão, parece menos ofensivo do que os gritos de fome vindos da mãe que ficou para trás.

A política se dobra. As bandeiras da independência são apenas panos coloridos cobrindo os ossos expostos da colonização mal enterrada. Quem detém o poder pisa na mesma terra que os colonizadores dizimaram, mas agora com botas feitas na Europa. A mesma terra que suga suor, sangue e lágrimas.

Racismo. A ferida que nunca cura. Na Europa, ser negro é carregar a sombra de um continente inteiro nas costas. Na própria África, o negro teme o poder em sua própria pele. Ele anseia partir, mas encontra paredes de preconceito – às vezes erguidas por aqueles que também têm pele escura.

Quando a água do Ocidente escorre em suas gargantas ressecadas, os homens e mulheres africanos percebem que a água que correm para beber é fétida – impregnada pelo julgamento, pelo uso, pela exclusão. Mas o desespero é um mestre severo, e até a lama parece vinho aos olhos de quem tem sede.

E assim, a alma africana permanece em lágrimas. Não por fraqueza, mas por saudade do que poderia ter sido. Um gigante adormecido, gritando de dor nos sonhos roubados, enquanto a história repete sua ironia – transformando a busca por dignidade em tragédia e sangue.

VICTOR BRAVO
Enviado por VICTOR BRAVO em 02/01/2025
Código do texto: T8231995
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