XXIV Semana da Língua Italiana
"XXIV SETTIMANA DELLA LINGUA ITALIANA"
“O livro como veículo do Patrimônio Cultural, de Valor e Identitário Italiano”
Caros amigos,
Os escritores de outros tempos colocavam no papel suas emoções, suas dúvidas, seus sonhos, seus ensinamentos didáticos e suas profecias e alguns até escreviam nas pedras. Tivemos grandes poetas italianos e seus expoentes foram Dante Alighieri – o pai da língua italiana e o poeta Virgílio, cujo legado nos enriquece até os dias atuais.
Eu recorri à literatura como um barquinho a me salvar no oceano da solidão em que eu vivia. Em 2001 eu me retirei do banco, muito jovem, impaciente com o vazio que se abriu a minha frente e nada foi tão essencial quanto por em linhas filosóficas as dúvidas a esperança, a desesperança, os erros e acertos até então, numa ânsia de aliviar o turbilhão de emoções que se instalara na minha mente e no meu coração. Escrevi uma crônica sobre a implantação de uma agência do banco em São Paulo e ganhei Menção Honrosa. Isso foi o grande impulso para a carreira literária.
Escrever requer estudo da gramática e da literatura, naturalmente. Especializar-se em por um amontoado de letrinhas em métricas, rimas, sonetos, crônicas, narrativas, enredos teatrais e etc., isto é, tomar um balaio de palavras e transformá-las num livro! Eis o dom da literatura... temos os dons - você nasce com ele, e temos os talentos que advém do estudo. Portanto, temos que ler. A leitura enriquece o vocabulário; ela aumenta a imaginação a níveis exponenciais e de tal modo nos modifica que somos capazes de atingir a mente de outras pessoas fazendo-as moverem-se em novas direções.
O livro nos transforma. Entramos numa esfera de imaginação tão envolvente que todas as coisas tomam uma forma grandiosa e bela a nossa volta, como por exemplo: um livro dos antepassados. A primeira vez que você se vê diante de uma árvore genealógica, você invariavelmente vai buscar as suas raízes; vai descobrir que existem os antepassados, que eles viajaram pra cá ou pra lá e modificaram toda uma sociedade. Quando uma pessoa se dá conta que um grupo é capaz de modificar a estrutura social vigente, como nossos imigrantes chegaram e modificaram a estrutura social daquele lugar, então você saberá que tem um poder gigantesco em suas mãos. No mínimo, o leitor vai ter a curiosidade de saber a origem do seu sobrenome. E aí se desencadeia um processo de grande transformação: o interesse pela língua italiana ou germânica, polonesa ou belga, e pela heráldica, (heráldica é estudo da origem, evolução, simbolismo e arte dos brasões, emblemas criados na Europa, na sua maioria).
Outrossim, surge um interesse pelas Cidades e Vilas de onde vieram os imigrantes... isso traz um movimento, a vontade de viajar à terra deles. Quem de nós não teria esta curiosidade?! Eu fui uma das viajantes que caminhou nas cidades dos antepassados com lágrimas de tanta emoção. No mínimo, algum de vocês desejará ouvir dos avós ou tios as suas histórias, e então, tudo a sua volta toma um novo significado. Você resignifica a sua existência! Depois de uma busca assim, consegui escrever o livro “O Desbravador – a trajetória heroica de Giuseppe Caresia, imigrante trentino-italiano”.
E de repente, você que era tão fixado no celular, lembra da sua aula de história lá na adolescência, relembra de fatos e acontecimentos mundiais que te transportam a outras épocas, mais de dois mil anos de epopeias e migrações... pessoas que vão de cá e de lá... É essa espiral de busca que sacode a gente e nos põem em movimento. Isto é, nos dá mais Vida!
No tempo dos meus avós, em Botuverá, o papel de carta era caro e pouco, então eles escreviam em pequenas tábuas e apagavam no dia seguinte, tendo a obrigação de decorarem o texto e a matéria dada pelos professores. Vejam que difícil eram àqueles tempos.
De acordo com o filósofo Domenico De Masi, “temos que nos permitir um ócio criativo... e o que é isso? é um estado de espírito no qual as pessoas podem se engajar em atividades que promovam a sua realização pessoal e profissional, sem estarem necessariamente vinculadas ao trabalho convencional”. Assim, se algum de vocês começar a escrever num momento de lazer, possivelmente, esta atividade se tornará algo tão gratificante que terá continuidade.
Para o escritor Eugênio Montale, Prêmio Nobel de Literatura em 1975, "os livros eram uma forma de dar a conhecer a sua versatilidade e a vastidão dos seus interesses".
Nos dias de hoje, com o computador e o celular ao alcance das mãos, todo cidadão tem meios abundantes de ler. Mas, será que é isso mesmo?... todos leem um bom artigo por dia?... Será?!
Então, surge a pergunta: o que é o tal do “storytelling” (que eu utilizei no livro ‘O último gerente”? é a arte de contar uma história com emoção. Eu inseri na trama amorosa: intrigas, traições, desencanto, um pouco de pimenta, discussões verbais, sequestro na agência (em SP), e um fim completamente inesperado.
Vivemos num tempo de muitas controvérsias, desafios diários, polêmicas e discussões, onde as imagens rodam nas telas ininterruptamente. Mil palavras, mil desenhos, “emojis”, desenho animado, filmes e documentários turvam nossos olhos. A facilidade de envio de uma mensagem é impactante.
Isso tudo não sugere a supressão da escrita?!... para alguns até pode ser. Afinal, como caminhar sobre folhas secas mirando o infinito, sentindo a brisa suave da aurora colocando esse pulsar de vida num livro ou um texto qualquer?... É desafiante, sim!
Sabemos que cada um tem suas próprias ideias, e as defende arraigadamente; cada um mira o sucesso de alguma forma, cada um quer expor suas conquistas numa tela interativa para o mundo, e não raro, discussões se sucedem ligando o celular e acessando uma plataforma de streaming (por ex. youtube). Os pontos de vista de cada um aparecem a cada dia... é preciso muito equilíbrio, sabedoria, bom senso, calma e perseverança para não ser atingido por infâmia ou por ofensas.
Em consequência dessa enxurrada de informações é visível a alienação da juventude em um grau diferenciado de um país para outro. É óbvio que o estresse alcançou todas as camadas da sociedade, pois as tarefas se multiplicaram com o advento do celular... nota-se um lacuna no mundo literário.
Temos que fazer com que essa geração diminua o estresse, abarque a vida com suavidade, acerte o caminho da literatura e engrandeça a humanidade com seu viver. Além de inspirá-los temos que dar significado a nossa existência, cada Ser humano na sua integridade merece o pódio, merece ser vencedor.
Dito isto, deixo meus livros como legado, para que esse Patrimônio cultural não se perca pelos vendavais da vida, mas que tenhamos a cada dia novas Bibliotecas para abrigá-los e assim permear o tecido social vigente com os preciosos valores deixados pelos corajosos imigrantes, nossos antepassados, e por fim, cunhar (selar) a identidade italiana com nossa determinação e força.
Izabella Pavesi
foto: arquivo pessoal