Cadastradores de conciências.
Na calada da madrugada do sábado, quando as luzes da cidade de Arapiraca se ascende e o silêncio toma conta, os políticos despem-se da fantasia de democratas. Abandonam as máscaras de defensores do povo e vestem o manto vermelho da corrupção, como lobisomens que aguardam a escuridão para revelar sua verdadeira natureza. Junto a eles, surgem os cadastradores de consciências, mercadores da dignidade alheia, que exploram o desespero daqueles cujas mãos, calejadas pela luta diária, se estendem em troca de migalhas.
Essas mãos não pedem apenas um auxílio momentâneo; elas clamam por dignidade, por uma vida que esses políticos, com rostos de sombras, não podem e não querem garantir. O dinheiro que oferecem é uma esmola perversa, arrancada do próprio povo, como se a vítima fosse cúmplice no roubo de sua própria vida. O que os miseráveis recebem é uma fração do que lhes foi subtraído, enquanto os políticos se tornam mortos-vivos, zumbis que emergem de suas tumbas luxuosas de quatro em quatro anos.
Esses zumbis caminham entre nós, não em busca de carne, mas de poder. Alimentam-se do apoio dos hipócritas, que trocam suas consciências por pequenos privilégios, e do sofrimento dos miseráveis, que, abandonados por um sistema sem educação, saúde ou segurança, são jogados à margem da sociedade. E assim, de eleição em eleição, esses seres desaparecem na névoa após sugar o que resta da vitalidade popular.
O ciclo se repete: depois da eleição, voltam às suas sombras, aos seus túmulos de luxo, e Arapiraca retorna àquilo que chamamos de "normalidade". Uma normalidade onde o povo continua escravizado, refém de um sistema que vampiriza sua esperança.