Palestra EJA Ensino Médio - Roda de conversa

Minha história com os livros começou bem cedo. Logo que aprendi a ler e descobri que a biblioteca da escola e a biblioteca pública emprestava livros sem custo, me tornei uma leitora apaixonada. Lia todo tipo de livros sobre qualquer assunto.

Então meu mundo que era pequeno e pobre, ampliou-se e enriqueceu muito. As coisas todas ganharam um novo significado. Descobri que existiam muitas histórias de superação, aventura, novos lugares, países exóticos, modos de vida diferentes do nosso. Li autores nacionais: Monteiro Lobato, Jorge Amado, Machado de Assis, José Mauro de Vasconcellos. Escritores gaúchos: Moacyr Scliar, Érico Veríssimo, Simões Lopes Neto, Mario Quintana. Escritores Santoaugustenses: Odilon Gomes de Oliveira, Eucardio Derrosso, Lorna Schneider, Quintaninha. Além de incontáveis autores internacionais.

E fui crescendo e estudando. Mas precisava trabalhar para ajudar nas despesas, pois éramos pobres e tudo era bastante difícil. Aos doze anos já estava trabalhando. E continuava lendo. A leitura inundava minha vida de encantos e esperança.

Mas por causa das dificuldades financeira e problemas familiares, minha vida escolar foi impactada, interrompi os estudos antes de concluir o Ensino Fundamental. Assim que foi possível, reiniciei no turno da noite e conclui. Então na cidade só tinha o segundo grau na Escola particular antiga CNEC. Estudei alguns meses e interrompi novamente. Era muito cara a mensalidade.

Logo em seguida casei e fui morar no interior, ser agricultora. Depois de algum tempo voltei a morar e trabalhar na cidade, junto com meu esposo. Tive meu primeiro filho. Então pensei que precisava estudar e conseguir um trabalho melhor para garantir um futuro digno para nossa família. Prestei algumas provas de supletivo em Três Passos. Já estava grávida do meu segundo filho. Fiz concurso do estado para Auxiliar Adm. de Escola. Fui aprovada. Tive o bebê. Fui chamada para trabalhar no CIEP.

Algum tempo depois foi implantado na Escola o EJA Ensino Médio. Fui uma das primeiras pessoas a fazer a matrícula. Em dois anos estava formada. Logo em seguida fiz faculdade de Pedagogia. Tudo isso enquanto trabalhava e criava meus filhos. Também ministrava cursos de Pintura em tecido e artesanato na Escola Aberta nos sábados á tarde.

Aí fiquei ousada, fiz inscrição para seleção de uma especialização no Instituto Federal. Fui selecionada. Em um ano e meio me tornei especialista em educação. Enquanto isso assumi como monitora da Escola Aberta. Era responsável por todo funcionamento e planejamento das oficinas. Trabalhava também aos sábados e domingos.

Mas e a escrita onde ficou em meio a tudo isso?

Pois enquanto tentava organizar a vida, descobri ainda criança, que também poderia escrever, não apenas ler os livros.

Comecei com poesias, pequenos contos. Mas escrevia mais pra mim mesma. Perdi muitos dos meus escritos. O projeto de publicar um livro era apenas um sonho.

Mas um dia, um belo dia recebi um email com um convite para publicar meus escritos na Plataforma Recanto das Letras. Dei uns pulos de alegria. E quase imediatamente comecei a publicar com o pseudônimo de Anamar Quintana.

Depois de algum tempo a plataforma Recanto das Letras promoveu uma Antologia de poesias em livro físico que participei com 4 poesias, Desperta amor, Pescando Estrelas, Meninas dançando ao vento, Aurora de Luz.

Depois venho a Coletânea de contos em que participei com dois contos: O menino e o beija flor e Tesouro encantado.

Participei de mais duas Antologias poéticas pela editora Lura. E então após seleção e análise rigorosa de minha vida acadêmica, pessoal e profissional ingressei na Academia de Letras do Noroeste do Rio Grande do Sul – ALENRIO evento esse que me orgulha e honra muito. E após publiquei meu primeiro livro solo A Esperança Dança.

Continuo lendo bastante. Mas aprendi que não basta apenas ler. É preciso ler, saber interpretar, refletir, entender a mensagem.

Posso afirmar com certeza que os conhecimentos que adquiri com o estudo e a leitura me tornaram literalmente uma pessoa melhor. Possibilitaram também que eu conseguisse realizar projetos que eram apenas sonhos e que proporcionasse uma vida digna a minha família.

Santo Augusto RS, setembro de 2024.