DESABAFO
DESABAFO
Cheguei aos 64 anos (When I´m Sixty Four) e confesso que cansei. Cansei
de ajudar terceiros, familiares e desconhecidos. Minha vida toda foi
fazendo isso (sou médico desde meus 23 anos de idade). Nessa minha
reta final vou ajudar a mim mesmo.
Voltei a ficar sozinho. Solitário não... jamais me sentirei assim,
pois adoro minha companhia.
Em realidade, cansei de compartilhar minha convivência com gente
pequena, inculta, rasteira, fria e egoísta. Pessoas sem um mínimo de
noção socialista. Pessoas que só pensam em proteger seu quintal. Gente
falsa, que mostra somente aparências.
Adoro de paixão meus filhos e netos, mas reconheço e tenho consciência
de que não sou um pai e avô presente. Mas não tenho nenhum sentimento
de culpa ou coisa que o valha, afinal, sei que cada um deles tem sua
independência e autonomia. A questão familiar, para mim, é secundária.
Antes de qualquer coisa vem a questão individual. Família é
fundamental no seu núcleo familiar... pai, mãe e filhos.
Me separei das mães dos meus filhos (as duas) quando eles já tinham
idade, criação e discernimento para compreender as coisas da vida.
Não quero mais ninguém em minha vida, a não ser eu mesmo. Não preciso
de ninguém para minha estrutura vital. E se precisar depois de velho doente, contrato uma cuidadora.
MAS RECONHEÇO QUE NECESSITO, AFETIVAMENTE, DOS MEUS AMADOS FILHOS E NETOS.
Estou sendo protestado na justiça por dívidas de IPTU de um
apartamento que doei, há mais de 20 anos no divórcio e não
transferiram, ou seja, mantiveram em meu nome.
Não tem problema... não vou mais me aborrecer com as pessoas que
conviveram comigo numa vida passada tão feliz.Já disseram que, ao doar
(no divórcio) um imóvel de cobertura e de valor significativo, foi
presente de grego por ter dívidas de IPTU. Paciência Iracema,
paciência.
Nunca as pessoas reconhecem as coisas quando fogem, nem que seja um
pouco, dos seus interesses.
Trabalhei muito, mas muito mesmo. Passei inúmeras noites em claro,
trabalhando, salvando vidas e minimizando sofrimentos, principalmente
de crianças.
Durante mais de vinte anos, compartilhei a atividade médica com a pedagógica, lecionando para
nível fundamental e médio em diversas escolas públicas e privadas e nível superior (medicina, enfermagem e nutrição)
na UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Tudo que ganhei de retorno financeiro, reparti com minhas consortes e filhos.
Mas a vida segue e os cães continuam ladrando enquanto a caravana passa.
Marco Antônio Abreu Florentino