Robespierre e o fim da ditadura genocida

Há exatos 230 anos, em 28 de julho de 1794, o líder revolucionário francês Maximilien Robespierre foi guilhotinado na Praça da Concórdia, em Paris. Era uma segunda-feira. Uma multidão se reuniu para assistir à morte do ditador que por um ano e meio aterrorizara a França à frente do Comitê de Salvação Pública.

 

Um dia antes, ele fora julgado e condenado pelo mesmo tribunal revolucionário que enviara milhares de pessoas à morte sob o seu comando. Robespierre nada disse antes de ser executado; estava impedido de falar por ter desferido um tiro contra o próprio maxilar, numa suposta tentativa de suicídio. Testemunhas relataram que Robespierre apenas soltou um urro de dor antes de ser levado à guilhotina para ter o mesmo destino de suas vítimas.

 

A morte de Robespierre, no entanto, não significou o fim da Revolução. Nos anos seguintes, a França passaria por muitas agruras, as quais culminariam com a ascensão de um militar corso que se juntara aos jacobinos, Napoleão Bonaparte, um legítimo revolucionário que espalharia o terror e a morte por toda a Europa. A Revolução Francesa, apresentada geralmente como um triunfo da liberdade, na verdade marca o início da tragédia de nosso tempo.

A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, espetáculo de blasfêmia e escarnecimento, foi apenas uma ilustração do espírito revolucionário que domina aquele país há mais de dois séculos.

 

Poucos sabem, mas a paródia da Santa Ceia com as drag queens no lugar dos apóstolos e uma gordinha feiosa no lugar de Jesus Cristo — sem esquecermos uma pobre criança no lugar ocupado por Judas Iscariotes, detalhe a sugerir que o traidor de Cristo era inocente — tem um precedente histórico.

Em 10 de novembro de 1793, durante o Reinado do Terror jacobino, realizou-se em Paris o Festival da Razão, coordenado pelos seguidores do revolucionário ateísta Jacques-René Hébert.

 

A Catedral de Notre-Dame foi transformada em um Templo da Razão, assim como outras igrejas da cidade. Todas as imagens e símbolos cristãos foram removidos da catedral; o altar foi coberto por um monte de terra. Realizou-se uma procissão carnavalesca pelas ruas de Paris, que culminou com uma festa pagã em Notre-Dame.

Uma atriz de duvidosa reputação representou a Deusa Razão na cerimônia profana. Certamente, a moça era mais bonita que a gordinha das Olimpíadas, mas o desrespeito e a blasfêmia eram rigorosamente iguais.

 

Enquanto os revolucionários ateus celebravam a Deusa Razão no lugar de Cristo, os jacobinos liderados por Robespierre promoviam massacres de milhares de padres, freiras e fiéis cristãos. O maior desses massacres foi a Guerra da Vendeia, em que foram mortos cerca de 200 mil cristãos, no primeiro genocídio moderno. Ontem como hoje, o maior inimigo da Revolução era o Corpo Místico de Cristo, a Igreja Católica. Em 17 de julho de 1794, poucos dias antes da queda de Robespierre, 16 irmãs carmelitas do mosteiro de Compiègne foram guilhotinadas sob a acusação de “fanatismo religioso”, ou seja, por se recusarem a adorar o Estado acima de Deus. As carmelitas de Compiègne hoje são santas da Igreja.

 

A escolha da Santa Ceia como paródia na abertura das Olimpíadas não se deu por acaso. Na noite anterior à crucificação, Jesus reúne seus doze discípulos sabendo que seria traído e abandonado por eles. Ele escolhe justamente esse momento para instituir a Eucaristia, de modo a provar que o perdão de Deus é infinito — e está vinculado ao arrependimento sincero. Ao exaltar a feiura e a bizarrice na paródia da Santa Ceia, os inimigos de Cristo estão se orgulhando do pecado e da separação de Deus (e não foi exatamente essa a expressão que o Mané Macrão utilizou, ao dizer que a cerimônia é “motivo de orgulho”?).

 

Como eu sempre digo a meus sete leitores: a esquerda jamais perdoa. Para a mentalidade revolucionária, o perdão é inconcebível. Ao escolherem como objeto de escárnio a Santa Ceia, a mais poderosa celebração do perdão em toda a história, os filhos da Revolução Francesa repetem o ritual de 1793 deixam claro que todos nós, filhos adotivos de Deus, não merecemos clemência.

 

Talvez por isso as luzes tenham se apagado durante um tempo em Paris. É a escuridão do Getsêmani, onde só permanece aceso o Sagrado Coração.

 

(Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM.)