Saudosa Biquinha da Vila Baiana
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
O que eu temia de acontecer, em minha cidade, hoje é um fato acontecido; consumado há muitos anos: um impacto ambiental irreversível e sem solução. — Com zero chance de ser minimizado.
Nos bons tempos, era uma das maiores riquezas aquífera do lugar: a nascente da biquinha da Vila Baiana. Secou de uma vez por todas e não faz mais parte de sua bacia hidrográfica de outrora!
Eu a conheci a partir de 1969, ano em que me mudei juntamente com meus familiares e estabelecemos residência própria ao seu entorno. — E desfrutavamos de boas relações afetivas com esse paraíso.
Quando a população local ainda não contava com um sistema de abastecimento de água encanada, a nascente da biquinha serviu e muito, aos moradores do lugar, em agua farta...
Apesar de ser uma água salobra, pesada, complicada para ser bebida (pelo teor de salinidade), era usada continuamente sem problemas, em várias utilidades... inclusive como água potável ao povo do lugar. — Por anos e anos.
Em recorrêntes idas e vindas (a biquinha) eram vistos Homens, mulheres e crianças escanchadas nos quadris, das mães, sobre os ombros dos pais; conduziam latas, potes e baldes para a busca o precioso líquido vital; e atender suas demandas básicas do dia a dia.
O nosso refresco-corporal em tempos de calor em banhos na biquinha e, em poços no riozinho frente a ela, é também a parte boa das lembranças que ficaram, em muito de nós, moradores desse período, na cidade.
Já havia sinais da interferências humana no espaço anexo à nascente da biquinha. Como cercas de arames farpados a sua volta e pastagens para animais-bovinos e equinos; e vestígios de olarias artesanais, desativadas.
Como fiel guardião desse santuário, seu buritizeiro centenário ainda reinava absoluto. Receptivo às araras, maritacas, periquitos e tucanos... que o visitava costumeiramente.
Nas tardes e madrugadas de cada dia, as saracuras-três-potes que não caíam em nossas arapucas, encerrava suas jornadas diárias. E acordava a gente para o trabalho do dia seguinte, em cantorias saudosas, em dupla (como se, numa primeira e segunda voz).
As aves da biquinha dividiam com a gente, às pimentas de-macacos madurinhas e doces. — Bicando uma pequena porção do fruto, mas não importavamos. O chão úmido, do seu entorno, uma vez escavado com alguma ferramenta, nos fornecia com fartura, grandes minhocas frescas e vivas, para as nossas pescarias de lambaris. Lá mesmo no Riozinho em frente à bica d'água ou em outros rios do lugar. Até então, limpos para banho e pesca; e com peixes saudáveis para o consumo.
Era notório que, uma parte significativa da fauna, flora, micro-organismos, microclima e ecossistema daquele local ainda se apresentava em razoável estado de preservação. Lamentavelmente perdemos esse ativo ambiental!
A ocupação humana desse espaço de beleza e riquezas naturais (bem como do seu aniquilamento) só se deu, graças ao desenvolvimento urbano de nossa cidade, sem o mínimo de preocupação com o planejamento-sustentável. — Por parte de legisladores e governança local do passado.
Se não estou equivocado, a morte deste riquíssimo manancial aconteceu muito rapidamente a partir da década de 1980, com o prolongamento da Rua Desembargador Rivadávia — que na época, a mesma, vinha da região hospitalar, até a Rua das Laranjeiras (formando u "T" com esta).
Foi uma pena, o manancial da biquinha se acabar dessa maneira tão abrupta!... sem o mínimo de empenho por quem tinha poder de mando, o cuidado em preservá-lo.
Se tivesse havido essa preocupação por parte da administração pública de tombar aquele recurso natural, oficialmente, como um patrimônio municipal para fins de preservação ambiental; hoje, a sua população poderia estar usufruindo, por exemplo, de um lindo espaço de visitação pública; um local de estímulo ao turismo ecológico e de aprendizado da comunidade escolar, contemplação e outras utilidades pública...
Infelizmente o pior aconteceu!...
Campos Belos (GO), em gestões passadas e presente, vem acumulando passivo ambiental (dívidas para com o MA), em alguns seguimentos como saneamento básico; que, não pagará tão facilmente.
— Resta a governança, legisladores, a população, às instituições (de vários seguimentos), Orgaos dono MA, criarem programas para minimizar o máximo esses impactos; para que, do saco se salvem pelo menos o cordão. Como diz o dito popular em Goiás.
A questão do lixão que vem se arrastando há décadas e precisa ser equacionada... sobre risco de pesadas multas ao erário, por contaminação dos lençóis freáticos e risco eminente à saúde pessoas...
Já seria um bom começo...
Urgentemente defender nossas, nascentes urbanas que sobraram: valorizando-as e preservando-as.
Creio que pouco se fez até agora, no sentido de estudos, quanto aos recursos hídricos da cidade (em seus vários aspéctos).
Tempo desse um amigo (que se preocupa com essa temática) divulgou um relatório num veículo de comunicação, sobre as nascentes urbanas de Campos Belos. Em que, diagnosticou uma situação de penúria em se encontram as mesmas.
Segundo seus relatos é simplesmente de cortar o coração, as condições atuais desses recursos hidricos. — Bem como a bacia hidrográfica da cidade como um todo.
A implementação de um projeto no sentido de VALORIZAR E PRESERVAR AS NASCENTES URBANAS seria muito bem-vindo. Elevaria a umidade do ar e a regularização do ciclo natural das águas se daria (dentre outros benefícios).
Melhoraria em muito a qualidade de vida da comunidade...
“Só damos valor na água depois que a fonte seca”.
Contribua para que, a beleza e os recursos naturais do nosso município (bem como a nossa história) não desapareçam por completo)!
*Nemilson Vieira de Morais,
Gestor Ambiental -
Acadêmico ANELCA & ALB/MG/RMBH
(21:02:24)