Reflexão sobre minha prática

Eu aprendo muito toda vez que entro em sala de aula. Aprendo coisas impressionantes que deixariam qualquer um boquiaberto. Aprendo como não tratar um colega de trabalho, como não tratar uma pessoa que conheço ou não conheço. Aprendo como não me expressar, como não me dirigir ao próximo. Aprendo como não me portar diante dos outros, como me manter na minha quando não sou chamado. Aprendo como não tratar as autoridades com consciência detida. Enfim, aprendo como não ser um ser humano.

Dito isso, tenho certeza de que alguns virão e dirão os seguintes impropérios: "Ah, é assim mesmo. Sala de aula é assim. Se não aguenta, deixa o cargo para quem quer trabalhar." "Esse é o ônus de trabalhar com o público." "Pelo amor, não consegue lidar com criança?" "Aposto que nem dá aula, só fica resmungando aqui." "A educação é para heróis." "Dê mais amor e você verá que mudarão com você." "Professores apaixonados acordam cedo e dormem tarde, pois estão movidos pela ideia fixa de que podem mover o mundo." "Uma lousa, um giz, um professor e um aluno podem mudar o mundo." Tudo baboseira, conversa para boi dormir.

Vou deixar uma coisa clara: a sala de aula é hostil. Foi durante a minha formação, está no atual contexto e será, se nada for feito. Não me refiro a questões pedagógicas, didáticas ou paradidáticas; refiro-me ao trato com o ser humano. Valores básicos de tratamento interpessoal estão sendo violados dia após dia. Toda a vivência dessa violência social que experimentamos em nosso cotidiano contaminou ou emergiu das famílias e isso eclode em um espaço fechado chamado sala de aula.

São pessoas, adolescentes de 12 anos ou mais, que não possuem o mínimo de respeito, empatia ou qualquer outro sentimento elevado que nos diferencie dos animais. Óbvio que não atribuo esse fardo a todos, porém, de forma generalizada, a educação brasileira está reproduzindo esse ciclo tortuoso de violência. Isso pode ser parte de um plano maléfico, sórdido, dos governantes que se perpetuou ao longo do tempo? Pode sim! Até porque a prática educativa é um ato político e, portanto, pode ser visto como oportunidade de dominação. Mas podemos adicionar a esta equação a ingerência e incapacidade das famílias em promover um lar minimamente saudável.

Como um todo, somos responsáveis pelo que ocorre com esse setor basilar da sociedade. Todos temos que nos comprometer com a educação e sua melhora constante e contínua, mas a realidade é que ninguém quer fazer isso. Fica um jogo de empurra, e quem sofre com isso são os atores imediatos desse ringue de problemas: o professor e o aluno.

Alexandre Rodrigues de Lima
Enviado por Alexandre Rodrigues de Lima em 18/06/2024
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