Contrição de amor, não há

Não estou em estado de graça… ah… como gostaria de estar. “Não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”, mas… que palavra dirá?

O Primogênito construiu sobre um humilde pescador a sua esposa, o que O Rosto Humano dirá eu não sei… ninguém sabe… Sua esposa sabe?

Quem é essa esposa? É um ser, no mínimo, complexo. Ela entende a natureza humana? É casada com o filho, que é uno e trino. É casada com este Ser de imensa paz e amor, que coexiste e coabita em tudo, que não podemos entender nunca e de forma alguma, mas que tem sobre nós o conhecimento integral. Um Ser perfeito que criou, ao menos, o princípio de tudo e conhece o fim de tudo. Um Ser que tem o poder de fazer e acontecer, mas ainda sim escolhe nos deixar livres para se afastar Dele ou Dele se aproximar.

Somos seres profundamente amados por Ela, A Trindade Santa, mas a esposa do Primogênito, Daquele que não aponta mas no alto de seu trono abre os braços num abraço acolhedor, essa é quem nos diz se estamos ou não nos afastando ou nos aproximando desse amor.

A esposa é um ser complexo com eu disse, ao mesmo tempo que pode nos ensinar a buscar estar em paz com nós mesmos e buscar uma vida dedicada ao amor de nosso Senhor, ao mesmo tempo que ensina como podemos amar como seu marido amou, ela nos faz sentir completamente sozinhos e afastados Daquele de amor infinito.

Eu choro por nunca poder chegar ao que ela diz ser o Estado de Graça… dependendo dela eu nunca poderei ter a absolvição integral de meus pecados e daquilo que diz que são meus pecados. Tenho profunda contrição de todos os meus desvios, menos daqueles que vem de meu amor…

“Pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões”, a esposa me ensinou isso, me ensinou que o pecado não está só nas ações! Se eu penso algo pecaminoso e rejeito, é uma tentação, mas se me permito envolver nesses pensamentos, aí de fato é pecado.

Por ela eu nunca poderia receber o corpo de seu marido por conta de meus pensamentos. Por que me afasta Dele..? Ah! Sim sim, sou “eu” quem causa esse afastamento.

O amor romântico que tenho não deve ser praticado, “é pecado!”, diz ela. Os pensamentos que possuo, esses sim me permito ter, com vontade e plena consciência, ter, sentir, imaginar e fantasiar. Sabe o porquê, dona de branco? Porque se um dia o meu amor fosse correspondido, o praticaria com plena consciência de sua acusação de eu me afastar Daquele que amo sobre todas as coisas, Daquele que adoro e não posso viver sem, já que sem ele só há morte…

O amor que sinto, eu sinto do fundo de minh’alma… desejo carnal? Isso é consequência! Minha alma tem saudade, tem carinho, tem zelo, tem a vontade de se doar, de amar profundamente, não vê? Não vê que não há mal nisso? Você não fala por Ele!

É um pecado mortal. Ela diz que preciso da confissão e da penitência, mas não tenho contrição alguma quanto ao que meu coração sente e nunca terei!

Eu… sinto tristeza, medo e vergonha de quem sou, me sinto… perturbado demais com a ideia de uma esposa criada por seu marido dizendo que eu mesmo me afasto Dele por conta de coisas que ela e tão somente ela diz…

Suas regras labirínticas que fecham todas as saídas e me dão a simples solução: contrição, confissão, penitência e a busca por não mais repetir. Me diz também que até eu não praticar isso, não poderei receber na morada de minha alma o seu marido, mas… e se eu não confessar isso? Confessar outras coisas? Ainda sim é pecado. E se eu omitir? “Pensamentos e palavras, atos e…” omissões! Sim! Seu perverso labirinto sem saída, ó esposa, não me dá outra alternativa!

Confessarei, confessarei tudo, mas não haverá contrição. Não estarei no seu dito Estado de Graça e ainda sim receberei seu marido em minha morada de bom grado. Dedicarei minha vida a Ele sentindo o peso enorme da dúvida em meu coração de seguir minha natureza e O desagradar. Seguirei com a culpa pois só assim poderei deixar esse amor gerar frutos, mas não vou ceder ao seu possessivo desejo de controle! E quando a morte me separar de meu templo, terei muito medo, não de vivenciar as punições descritas por Dante, mas de ter entristecido Aquele que amo sobre todas as coisas. Mas só Ele sabe a verdade, só Ele me conhece integralmente, só Ele pode me julgar e punir pois só Ele sabe o que O desagrada. Ela, A Santíssima Trindade!

Por isso rogo com veemência para que a esposa mude, para que pare o mais breve o possível de fazer tanto mal, de fazer com que sintamos culpa de nossos amores! “Mas Ele disse que o caminho não seria fácil, que teria que enfrentar o caminho das pedras e enfrentar as feras”, sim, de fato não será fácil, mas me recuso a mutilar a minha alma, me recuso a matar partes de mim por conta de que você decidiu que equilibrar essa frágil louça argumentativa permitiria que humanidade se aproximasse Daquele que permeia a tudo. Aquele Que é Onipresente, Onisciente e Onipotente.

Esposa, se Ela é Onipotente, pode amar até mesmo tudo aquilo que você condena.

A cruz pesada que carregarei na minha vida não é a luta contra mim mesmo, mas a culpa gerada pela dúvida que você incutiu em minha mente. E me dói, na carne e na alma, saber que não terei sua ajuda para carregar esse fardo...

Seguirei amando. Contrição pelo meu amor, com muito gosto, não terei.

Lenora Morgue
Enviado por Antonio Core em 05/06/2024
Código do texto: T8079295
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