SOBRE AMIZADE, VIDA E MORTE
SOBRE AMIZADE VIDA E MORTE
Descrevo, a seguir, minha opinião sobre amizade, enfermidade, vida e morte, expressada por ocasião dum recado recebido de um querido e fraternal amigo sobre a situação de outro amigo em comum, acometido há mais de doze anos de grave doença oncológica.
Recorreu a tratamento revolucionário e inovador, responsável pela surpreendente recuperação e manutenção do sua condição de vida. Porém, se afastou radicalmente dos contatos sociais e dos amigos.
Na mensagem, recebo a informação de que a doença voltou agressiva.
OBS: Mudei nomes e referência em respeito e consideração a eles.
AMIGO: - Luquinha ligou e gostaria de falar com você. -Atende fadinha green.
EU: - Fadinha blue, não falo mais Pelo Telefone. E viva Donga, Mauro e Ernesto (em referência ao que é considerado o primeiro samba brasileiro - ¨Pelo Telefone¨)
AMIGO: - Falei com Luquinha hoje.
EU: Amigo, se Luquinha quisesse falar com a gente, ele iria na Ágora ou qualquer outro lugar que marcasse. Garanto que eu iria até o inferno me encontrar contigo e ele. mas ficar paparicando não é da minha natureza.
Se ele quer morrer sozinho, paciência Iracema, paciência.
Ah! antes que me esqueça: Te amo meu amigo irmão.
AMIGO: Ele quer um encontro, mas preciso falar com vc.
EU: Em tempo: Tomando umas... estou de licença médica. Quanto a Luquinha, amanhã a gente conversa. Estou usando o Celular pra ouvir ¨Brothers in Arms¨ do Dire Straits e outras preciosidades da minha adolescência como Peter Frampton.
AMIGO: Luquinha está com carcinomatose peritoneal. Tudo bem! Boa noite. (finalizou, acho que aborrecido)
EU: Amigo, com toda sinceridade e me desculpe a frieza, mas Luquinha pra mim está morto, por suicídio. Só ainda não enterraram ele. Eu já sabia que iria ter essa complicação pois se entregou à doença, assim como minha amada prima Sâmia.
A morte, pra mim, não isenta as pessoas dos seus defeitos.
Fiz um desabafo recente (Morte e Vida: Força Divina ou medicina?), por causa de um bando de idiotas neopentecostais da minha família e do site (De Poesias) onde publico meus escritos. Vão todos pra ponte que partiu. Você, mais que ninguém, sabe o que eu passei e nem por isso me entrego e fico chorando pra Deus, pra família, pra pátria e pros amigos.
¨VIVER O MOMENTO EXISTENCIAL¨... esta é a grande jogada da vida. Na nossa idade e condição não tem porque ficar olhando pro futuro. Curto bastante meu momento... com a família (apesar dos pesares) e principalmente com amigos de fé, como você. São poucos mas valem por milhares.
Se Luquinha quiser, vou até o apartamento dele. Pode ser também em qualquer outro lugar. Gostaria muito que você fosse também pois, o que falar com ele?
Não fique chateado com esse seu irmão de coração.
Em tempo: Quem esteve presente na hora da minha morte, amém?
Parece que foi um querido amigo que se tornou irmão (no caso este AMIGO)
E por último: quarenta anos trabalhando na emergência de hospitais me fez refletir a morte de uma forma não convencional... nada triste mas respeitosa.
Não me peçam pra ficar consolando ou paparicando doente (vide meu texto ¨Doente não é Gente¨), seja terminal ou não. Tenho imenso respeito, consideração e dedicação a eles. Caso não seja possível salvar, paciência, Iracema, paciência.
Não vou mais te aborrecer. Boa noite e forte abraço fraternal.
Reforçando... tenho um amor por você tão imenso que transcende qualquer entendimento humano. Por mais que a gente divirja, brigue ou torça pra times rivais, nunca vou deixar de te amar. E espero estar presente nos momentos fundamentais da sua vida, principalmente o último. Porém não posso dizer o mesmo em relação a Luquinha. A quanto tempo não o vejo? A quanto tempo não nos falamos?
Dizer que vou chorar sua morte é ser muito falso. No máximo vou me lembrar com saudades dos nossos bons momentos.
Só contigo consigo ser o verdadeiro MA (eu), sem a hipocrisia que 99% das pessoas utilizam nas suas relações e dia a dia.
Agora é boa noite mesmo. Amanhã conversamos.
Marco Antônio Abreu Florentino