A morte do Rei
Não se deve odiar o rei porque o ódio é um sentimento reciprocamente fiel além de nos guiar a um lugar estreito onde nos tornamos presas fáceis e descontroladas. Deve-se matar com frieza e não prazer.
É necessário temer o Rei, não por medo, mas por respeito. A morte deve ser prudente. Tema-o na proporção certa de sua força.
Deve-se amar o Rei, pois o amor revela os pontos fracos. Ame o Rei na proporção certa de suas fraquezas.
A morte não pode ser misericordiosa, tampouco excessivamente cruel. O Rei deve morrer sem se tornar um mártir.
A morte deve ser calculada e planejada para não gerar desconfiança. Um rei só morre por fatalidade. Rei não é herói.
O rei deve ser morto pelas costas. Não por segurança ou covardia, mas pela plenitude da morte, pois um homem que percebe, mesmo por um milésimo de segundo que vai morrer, não mais é um Rei.
E, o mais importante: o objetivo não é a morte do Rei, mas o declínio do Reino.
"É, meu filho, esse discurso nos vale um livro inteiro de Maquiavel e um simples conto de Machado de Assis"