O Santo Rosário contra as conspirações

Eu gostaria de fazer uma breve meditação, recordando que em situações adversas como esta na qual nos encontramos, corremos, em princípio, um grave perigo do ponto de vista da fé e da nossa salvação, porque agora tudo à nossa volta conspira contra Jesus Cristo. Se cumprem aquelas palavras do Salmo 2: “Por que tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações? Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo.”

De modo que os cristãos agora, de modo sutil, são tentados à abdicar da fé, a abandonar os votos que fizeram no Santo Batismo, a aderir às máximas do mundo, enganados pelo número, já que a maioria vive assim.

No passado, em situações como essa, os sucessores de Pedro não tinham nada em que pensar e nada no que se apoiar a não ser no auxílio da Virgem Maria. Em circunstâncias bem menos graves, encontraram o auxílio poderoso da Santíssima Virgem Maria. Vocês podem verificar isso que digo nos diversos documentos Marianos, as cartas, as encíclicas dos papas, de modo particular Pio IX, Leão XIII e Pio X. Era a Ela, invariavelmente, a quem estes grandes príncipes dos apóstolos recorriam nas agruras e nas dores da Mãe Igreja, pedindo seu auxílio poderoso, porque sabiam que eram sempre atendidos, e exortavam aos demais pastores e fiéis para que fizessem o mesmo pela oração do Santo Rosário.

Assim sendo, a oração do Rosário deve ser mais do que uma opção de piedade pessoal e privada. Infelizmente, também o Rosário caiu no âmbito dos gostos pessoais, ou seja, reza quem gosta, quem não gosta não reza. O Rosário ficou “ad libitum”, a critério.

Constantemente ouço dizer: “Ah, eu rezo porque gosto, me sinto bem”. Vejam onde fomos parar: As pessoas rezam o Terço porque “gostam de rezar e se sentem bem”, como se esse dom celeste tivesse sido oferecido ao gosto dos homens e não como remédio às suas necessidades terminais!

Antigamente, porém, a súplica à Maria era uma das principais armas de que a Igreja dispunha diante dos graves males, como foi a heresia albigense, quando a própria Virgem inspirou o Rosário ao grande São Domingos, e pelos seus efeitos maravilhosos no combate contra as heresias e contra o mundo com suas máximas. De tempos em tempos, é preciso reconhecer, não apenas as pessoas, mas o mundo inteiro, não quer outra coisa a não ser “sacudir dos ombros” o suave jugo de Cristo...

Diante de situações humanamente perdidas como esta na qual nos encontramos, afundados até o pescoço, a Igreja não fez outra coisa a não ser se apoiar nos braços da Santíssima Virgem, se prender a Ela pela oração fervorosa do Rosário, pedindo a salvação dos cristãos. Dito isso, vejo-me no dever, do qual sei que Deus vai me pedir sérias contas, de exortar-vos à oração do Rosário, já que temos na Tradição da Igreja o nosso apoio e a referência para a nossa prática da fé.

Então, se alguém me perguntasse: “Mas padre, o que vamos fazer? As coisas pioram, as defecções são incontáveis, as traições, a heresia avança, campeia por todos os lados, os flancos estão abertos e os inimigos entram, o que fazer?”. O que fazer?! Empunhemos a arma do Terço, do Santo Rosário, não mais como uma simples opção de devoção privada, mas como um penhor de vitória.

Eu gostaria de exortar a vocês, portanto, filhos, a meditar as virtudes privilegiadas da Virgem Maria, Seus méritos, a Sua glória e a Sua materna proteção e a Sua infalível intercessão, Sua onipotente intercessão. Eu gostaria de exortar-vos a tomar com afinco esta tarefa tão simples de separar um tempo, todo dia, para recitar pelo menos uma vez o terço do Rosário, seguindo a tradição abalizada daqueles que o fizeram antes de nós. Devemos rezar o Santo Rosário não simplesmente por gosto, ou por que nos sentimos inspirados a fazê-lo, mas porque a Mãe de Deus e nossa nos mandou rezá-lo.

Os católicos não podem se reduzir a ser um mero grupo afeiçoado a uma devoção, mas sim a se reconhecerem como a milícia de Cristo, dos soldados de Cristo que devem se levantar e, apoiados no Santo Sacrifício da Missa, empunhando o Santo Rosário, combater as forças das trevas que operam por detrás de todos os males dos quais não fazemos outra coisa senão lamentar, como se simplesmente pelo lamentar e chorar os males fosse possível diminuí-los ou resolvê-los.

Lembremos, filhos, lembremos do tempo que nos separa das coisas que são ditas a vocês hoje nesta Santa Missa, para recordar que nossos antepassados na fé fizeram isso. E o Céu não deixou de responder às suplicas que, uma vez colocadas nas mãos da Santíssima Virgem, foram levadas diante da presença do Trono do Cordeiro. O Senhor não deixou de atender a essas súplicas chanceladas pela virtude da Virgem Maria.

Assim sendo, devemos agora dar um passo adiante; demos um passo atrás, relegando o Santo Rosário a uma mera questão de gosto, de piedade privada, porque quando ele foi dado pela Virgem Maria a seu servo, ao seu Apóstolo Domingos de Gusmão, não lhe foi dado para lhe afagar o gosto, mas como uma arma de combate contra uma das piores heresias que a Igreja já conheceu, que devastava a França e o resto da Europa, a heresia albigense, a heresia cátara, o catarismo.

Quantas vezes a Igreja encabeçada por seus pastores, dignos pastores, exemplares pastores, elevou com o Terço nas mãos, com o Rosário da Virgem, as súplicas a Deus em situações humanamente perdidas, e obteve a resposta e o auxílio de que necessitava? Agora não é diferente, até porque, filhos, nós não combatemos uma heresia, um problema, nós combatemos um conjunto de heresias, uma verdadeira cloaca de todas as heresias, que se insinua e ameaça a todos. Não é mais um erro, um desvio da fé, mas todos os erros e desvios juntos, compilados num amálgama monstruoso, um “dragão” que se posicionou diante da Igreja para devorá-la e ao Cristo.

Então, eu exorto a vocês a tomar com temor e tremor os vossos Rosários nas mãos, a se recordarem, honrando a memória dos santos que viveram antes de nós, e que o empunharam como arma de combate, a fazer o que eles mesmos fizeram quando puderam, quando tinham a oportunidade de recitar os mistérios do santo Terço com Maria, em Maria e por Maria, e com Ela, por Cristo, em Cristo e para Cristo. É o que temos, filhos, é nosso primeiro combate, é a primeira forma de demonstrarmos apreço e amor à nossa Mãe Igreja, de quem recebemos todos os bens, de modo particular aqueles que vão passar conosco desta vida para a Eternidade e que vão franquear-nos as portas do Céu.

Foi isso que a Virgem pediu aos pastorinhos ante a crise monstruosa que já vivia o mundo em 1917. Nas Suas seis benditas aparições em Fátima, o tema recorrente das aparições era esse: “Rezem o Terço todos os dias.” E será que nos custa tanto, filhos? Alguém de nós caiu na tentação de imaginar que o tempo rezado, o tempo dispensado ao Terço é tempo perdido? É o tempo em que mais ganhamos depois do tempo empenhado à Missa.

Eu não tenho mais nada a dizer, peço somente à Nossa Senhora que nos ajude a transformar esses propósitos, que o Espírito de Deus suscita em nossas almas, num compromisso de combate. Não apenas porque cada um de nós aqui é consagrado à Virgem Maria de uma forma ou de outra, não apenas por isso, não por causa de nossas relações pessoais com a Mãe de Jesus, mas porque a Igreja precisa urgentemente desse obséquio.

Urgentemente! Nossa Mãe Igreja grita e pede auxílio aos seus filhos, grita como a Virgem do Apocalipse no capítulo doze, grita em dores de parto, porque o dragão agora se coloca diante dela para lhe devorar o Filho, para lhe devorar a obra, o fruto do Seu ventre. Não nos façamos de rogados, eu não posso exigir que abandonem vossas famílias, que saiam em Missão, que vendam seus bens, que os deem aos pobres, isso eu não posso fazer, mas exigir que vocês rezem o Terço nessas condições e com essa intenção, eu devo, eu posso.

A Igreja pede o vosso auxílio. A Igreja pede o vosso socorro. Não deixemos nossa Mãe em agonia, uma vez que a grande Sexta-feira Santa da Igreja chega ao seu auge, chega à hora nona. Peçamos a Nossa Boa Mãe, a Santíssima Virgem, que tão solicitamente na Idade Média deu esse auxílio diante do grave risco que toda a Igreja e toda a Cristandade corriam por causa da heresia cátara, supliquemos à nossa Boa Mãe que nos dê aquele zelo que deu ao Seu grande apóstolo São Domingos de Gusmão, aos outros que vieram na sequência: Santo Afonso Maria de Ligório, São Luís Maria Grignion de Montfort, São João Eudes, e tantos outros que fizeram muito porque rezaram o Terço, rezaram o Rosário da Virgem, porque não se deixaram seduzir pela serpente, porque combateram ao lado da Igreja e não contra Ela, porque não se deixaram seduzir e enganar, estavam do lado da Mulher, daquela que pisou a cabeça da serpente com seu calcanhar.

Se queremos estar do lado da Mulher que pisou, que pisa, que pode pisar a cabeça da serpente, rezemos o Terço, foi o que Ela pediu. Quem quiser se alistar nas milícias da Virgem comece e termine pelo Santo Terço, o resto vem depois. O que devemos fazer virá depois, o que nos será pedido pessoalmente virá depois, mas ninguém presuma coisa alguma se antes não voltar à fidelidade ao Santo Terço, ao Terço diário. Se antes não entender que, mais do que qualquer outra coisa, o Terço foi-nos dado como um instrumento para o combate, para a batalha, para esvaziar e anular as forças das trevas — os poderes das trevas e dos seus aliados aqui no mundo. Uma vez que tenhamos essa consciência e com essa consciência empunharmos o Santo Terço, tenho certeza que uma nova fase da nossa vida cristã, da nossa vida católica, vai começar. Não só nós do clero, não só as pessoas consagradas, mas toda a Igreja de Nosso Senhor Jesus, e mesmo a raça humana e este mundo tão atribulado e enganado contam com esse empenho de vocês.

Que Nossa Senhora possa contar seriamente convosco, que daqui em diante Ela saiba que estamos de acordo com aquilo que aqui foi dito, e que não mais fujamos do combate.

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Esta é a transcrição de uma homilia proferida pelo Pe. Renato da Silva Leite Filho, pároco da Paróquia Rainha Santa Isabel de Portugal (Diocese de Santo Amaro), em 25 de maio de 2014. Esta versão apresenta algumas modificações. Salve Maria!

*Se ficou interessado(a), procure no Youtube o canal "Padre Renato Leite", onde encontrará algumas das mais católicas homilias disponíveis em português. Outros dois sacerdotes dignos de nota são o Padre Paulo Ricardo (esse é "hors concours", mas não poderia não mencioná-lo) e o "Padre Neves" (Pe. Leandro Neves), que impressiona por sua coragem e piedade.

Rafael Aparecido
Enviado por Rafael Aparecido em 17/01/2024
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