O GRITO DOS INOCENTES (Sobre o autismo, sobre pais e filhos)

Pais e mães gritando e brigando

Palco dos famosos "barracos"

A dor vira então "espetáculo"

De acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2020, o Brasil, com apenas 2,7% da população global, contribui com cerca de um quinto dos homicídios em todo o mundo.

Essa violência é sentida na surdina.

Ou seja, nem sempre se faz visível ou palpável.

O vulnerável, o hipossuficiente e os que lhes dão suporte sofrem constantes retaliações

Até mesmo pelos que deveriam prestar suporte

Até mesmo pelos que deveriam velar pela justiça e o direito.

Pais e filhos xingados, achincalhados, subjugados

Já não bastasse todo sofrimento das lidas diárias.

O preconceito e a falta de empatia social são estarrecedores, gritantes, oprimem o pequeno, enaltecem o gigante.

Pais de autistas,

Gente que todo o dia enfrenta situações sociais de condenação, de exclusão, de desrespeito

De violação aos direitos humanos, aos direitos do homem, à sua própria dignidade.

Pais de autistas,

Gente que, por vezes, já nem tem forças se quer para abrir os olhos

Mas tem que levantar e “combater o bom combate”

Pais de autistas,

Gente que não tem opção de fugir a própria luta

Pais de autistas,

Gente cansada, que grita, que briga, que já não suporta mais a opressão

Pais de autistas,

Gente que tem o limite no corpo, limite na mente, limite no coração

Pais de autistas,

Gente que respira exclusão (não fossem o bastante as lutas silenciosamente travadas).

Suporte? apoio? empatia?

São meramente palavras, restritas à formalidade e à utopia.

Sem espaço material,

Que se expostas ao mundo real são consumidas pela ferrugem do desuso.

A humanidade que deveria ter como valor moral apoiar, cedeu ao egoísmo, fez do ego seu abrigo.

Exclusão, segregação, condenação, opressão

São como metralhadoras apontadas e recorrentemente descarregadas em direção ao vulnerável, ao hipossuficiente e aos que os defende.

Feito ditadura eugênica.

Quem está do lado do mais fraco sente o peso da guerra fria e ideológica social,

Opressor desejoso por subjugar e retaliar o oprimido

Uma gente que sente o golpe das balas atiradas,

Uma gente que grita,

Uma gente que briga,

Uma gente que chora, ora e suplica

Por "visibilidade e mais respeito"

Uma gente que não suporta mais tanta exclusão, acepção, indiferença, discriminação

Tanta falta de empatia e desumanidade.

Um parlamento nacional que debate as infâncias invisibilizadas

Na prática, está falando de pessoas e crianças hostilizadas.

Hostilizadas, muitas vezes, por figuras instagramáveis, de falsos sorrisos, religiosidade sem sentido e corações vazios.

A violência nem sempre é escancarada de modo a tornar-se índices demográficos,

Ela é Sutil e velada.

É necessário que se grite,

Inevitável que se brigue,

Mesmo quando a força se te esquive

Que do sofrimento não se olvide

De todo relatado é premente e incipiente que se possa ouvir grito do inocente.