Top 7 equívocos do escritor mediano
1 – Palavras menos casuais tornam o texto mais profundo. Palavras difíceis podem apenas deixar o texto engessado e cansativo. É comum, inclusive, errar a flexão dos verbos com palavras incomuns. Ou então, usar uma palavra antiquada a proposta estilística do texto;
2 – escrever, no início da empreitada literária, sobre temas universais. Erro clássico: não se diz sobre as consequências das represas de água sem antes explorar a metafísica da própria água. Antes de se autoconhecer e explorar o universo, descreva aquilo que não é importante (i.e., na nossa consciência capitalista eficiente de mundo) aos olhos dos homens;
3 – depositar toda e somente nela a confiança em manuais e tratados estilísticos. De antemão, resguardo no meu discurso a importância histórica e técnica de ambos os recursos. Porém, sem preocupação de uma análise errônea, podemos notar o fenômeno da prevalência da técnica ante à essência do texto. É deprimente ler, por exemplo, um soneto clássico com todos os pés métricos encaixadinhos, mas que nada agregam na experiência sensitiva do leitor. Antes de escritor, é necessário ser artista;
4 – a falta da revisão com o próprio trabalho. O escritor, especialmente o iniciante, tem o hábito de deificar seus escritos. A literatura, ao mesmo tempo que nos dá a chance de sublinhar os mistérios dos homens e das coisas, nos dá o pecado da soberba. É claro que achamos geniais a nossa arte, é triste apagar frases e palavras importantes para nós, mas que substancialmente sofrem da ausência de poder artístico. A consequência é a expectativa do leitor sucumbir;
5 – alienar-se em grupos ou discursos pré-concebidos anteriormente. Por exemplo, escrever textos agradáveis à bolha social específica do escritor, rejeitando irracionalmente perspectivas diferentes. Andamos em bando, é claro, mas no meio artístico isso é quase intolerável;
6 – não ler. Por mais cômico que o enunciado ‘’não ler’’ nesse contexto literário possa ser, realmente existem pessoas assim. Ora, para competir com um restaurante vizinho, por exemplo, é necessário conhecer seus pratos, sua clientela, seu marketing. Visitar o restaurante e adentrar-se no mundo daquele serviço oferecido. Na literatura não seria diferente. Ler dos clássicos aos modernos e os vizinhos escritores se faz necessário para não apenas alargar o arcabouço de referências, mas para ampliar a sensibilidade do escritor;
7 – o contrário da masturbação com manuais e tratados, há o efeito oposto: o desprezo e a indiferença com a tradição. Há o fenômeno da escrita pela escrita, um total desleixo com o próprio trabalho. Tendo a desculpa de fazer sem pretensão e falta de sentido ontológico da palavra e de suas implicações. A literatura não deve em hipótese alguma sofrer enxovalhos de regras, porém, a total indiferença com ela absorve ao público a ideia de inutilidade. Sim, literatura não faz parte da lógica mercadológica do capital. Mas a falta de estudo e, digamos, o depósito estrutural num tufão de palavras sem cuidado, faz perdê-la o seu poderoso e único brilho.