A educação está sendo fraudada

Confesso, estou um tanto afastado da educação básica. A dedicação a formação acadêmica me deixou bastante afastado desse importantíssimo campo. Porém, me graduei como licenciado. Trabalhei como professor substituto duas vezes. Tanto no mestrado, como no doutorado, precisei acompanhar e lecionar aulas como parte do estágio de docência. Mesmo com essa experiência mínima, incomparável com os 30 ou mais anos de “chão de escola” de muitos, algumas questões para mim foram se tornando mais claras com o tempo e a prática (inclusive, no sentido de questionar práticas já consagradas entre meus mais antigos irmãos de profissão). Porém, o que tenho em mente, é discutir uma coisa que vem me incomodando nos novos formatos educativos implementados, mais precisamente, por recentes governos de direita no estado do Paraná.

Por quê? Digo sem rodeios: noto - e tudo que tenho são relatos de alunos, professores, além de matérias jornalísticas, confesso – que a educação como projeto de governo tem comungado com mero tecnicismo como solução pedagógica, e se reservado a uma formação humana (considerando uma abordagem mais completa incluindo humanidades, conhecimentos lógico-matemáticos e ciências da natureza) magra ou ausente. Diante disso não deixo de perceber a escola se transformando em um campo de formação e formatação de pequenos trabalhadores(as) alienados: onde não se objetiva educar seres humanos com um mínimo de consciência política e para serem cientes de suas capacidades, liberdades e direitos, mas, sim, engajados técnicos que o mercado de trabalho tanto requer, ou então, mão de obra semiqualificada, que aceite fazer mais esforço e receber menos. Receio dizer que a “economia” que pretensamente o Estado faz em deixar de investir devidamente na educação e de melhorar a sua qualidade é deveras prejudicial até mesmo para estes últimos objetivos.

Recentemente tenho ouvido professores dizerem algo estarrecedor: é a respeito de que o planejamento do Estado volveu esforços na área de Educação para torná-la pré-formatada para obtenção de índices educacionais favoráveis. Conteúdos e aulas teriam sido, então, previamente orientados e ou formatados para atender constantes aferições do “aprendizado” global dos estudantes, realizadas pelo estado. Se isso é a realidade, então estamos diante de um Estado “grileiro” de alunos e da educação: forja-se alienados, verdadeiro “bots”, que responderão maquinalmente perguntas direcionadas exatamente ao conteúdo que memorizaram previamente para responder. Nisso me vem à cabeça a ironia de que a “modernidade” de semelhante modelo educacional é tão “inovadora” quanto qualquer escola convencional do século XIX, quando eram usuais os famosos modelos de memorização por perguntas e respostas (cada pergunta, previamente relacionada a lição, admitia uma única e quase mecânica resposta). Depois, praticamente, pode-se "vender" os índices "medidos" para obter mais investimentos para o estado (note que coloquei estado em minúsculo), de preferência, do exterior. De outro lado, é possível entregar números “reconfortantes” para toda a sociedade, fazendo de conta que o Estado (com maiúsculo), está cumprindo seu dever em garantir uma educação de qualidade.

Eu me reservo na curiosidade de saber quanto tempo mais pais e demais educadores irão perpetuar o que me parece ser uma espécie de “paralisia” ou “adormecimento”, enfim, tolerância, diante de tais projetos. Quando o tempo de infância, adolescência e juventude é roubado para criar meros “bots” que repetem comandos, e, com isso, se busca atingir números, eu fico preocupado com tamanho roubo: do presente, passado e futuro de gerações inteiras. Presente, porque não estamos ofertando a formação humana que os(as) estudantes merecem e tem direito. Passado, porque o estudo do passado e a consciência histórica (por mais que possamos discutir esse termo) são desvalorizados. Futuro, porque estamos lhes privando de uma formação essencial que poderia lhes abrir um leque mais amplo de possibilidades para seus planos futuros (o que não envolve só a dimensão profissional).