Soliloquio de Fersegahr (Parte 1)
Que sou eu? Um tanto merejar até o desperdício? Um descaso do acaso ou um casaco guardado no guarda-roupa? De que me adianta entrar no quarto, mas não entrar na vida? Aquelas meias eram curtas e esgarçadas, mas ninguém viu! É verdade, sou mesmo um tolo ao me importar; merecer o escárnio é a justificativa que eles usam, não eu. Talvez eu seja só um talvez, mesmo que por força da precisão uma mera opção. Do que eu sei se nada sei além do sono que não vem? Das agruras, afio enfio agulhas para costurar o tempo. Para que este espelho aqui se não há o que ver no escuro? Tateio o liso e limpo reflexo que agora não vejo,mas ao menor sinal do dia estará lá. Eu comi amoras no jardim de Mavioline e brinquei de roda, cantiga na rua, olhei o sorriso dela e pensei em pera ,uva ou salada mista. Aí acordei soltando pipa só para fazer cócegas nas nuvens e caímos na risada, riso frouxo, descontrolado, deitados na pedreira. Aquele tênis surrado amarrado com barbante, o macarrão com massa do elefante , os coadores de café, as florzinhas de pano que enganavam a fome e me possibilitaram comer algo diferente. Eu em mim, um mero gotejar até o desperdício? Vou ali buscar um doce...