Descartes × descartes
Na cultura do abandono, é comum descartar pessoas, animais, plantas, sentimentos e objetos. Tudo se torna obsoleto demais, perdendo a serventia com muita rapidez, numa fração de tempo que impede qualquer vínculo ser estabelecido... tudo vai parar no imenso lixão a céu aberto, no lixo do esquecimento. Trocam-se coisas e pessoas na tola tentativa de buscar algum encantamento com algo novo. Projeções de novidade num formato diferente, numa cartela infinita de gostos, opções variadas para qualquer tipo de gosto, em gozo com prazos determinados... nem sempre em conformidade ao que vem rotulado. Nada consegue acompanhar o ritmo dessa volatilidade. Encanto não se compra, é preciso sentir e cativar para não cair no engano da frivolidade. A escassez existencial é uma erva daninha que germina dentro, impede que qualquer coisa ali floresça, mas cava um abismo enorme, à medida que as raízes vão se expandindo... porque é um vazio devorador, que nunca se abastece de nada. Esse hábito tão nocivo, propiciou o crescimento da geração do consumismo desenfreado, o qual, o capitalismo abastece frenetica(mente). Uma coisa se expande em detrimento do esvaziamento de outra. E por tudo estar bem enraizado, qualquer um que se levante para podar essas raízes, se sentirá cansado em algum momento, por falta de mão de obra, por falta de força maior em querer refrear esses malefícios. É preciso uma soma de esforços dentro do indivíduo, a fim de ser fator de soma e impactar em seu entorno, de bônus, conseguir alcançar aliados nessa empreitada. É cansativo, mas factível. Infelizmente, embora a maioria dos medicamentos venham acompanhados de bula, onde estão descritos seus efeitos colaterais, ninguém quer ler... todos querem se curar instantaneamente, soluções imediatas para a somatização de velhos e novos vícios... maus hábitos; ainda que lhes cause algum prejuízo a longo prazo... nada que o descarte não resolva, até que você se torne o mesmo, e passe a se interessar por reciclagem. Hoje o que se vê é um aglomerado de separatividde, sem qualquer possibilidade de integração.
Eu fico aguardando uma reviravolta na sociedade, uma era em que todos possam despertar de vez e serem real(mente) livres, fugindo dos seus cárceres. Sendo mais reflexivos e menos reativos. Um tempo em que remem nas águas de DESCARTES, absorvam suas ideias, pautadas na ordem, razão e clareza. Porque "o conhecimento racional é inato ao ser humano. " Não temos agido com tanta racionalidade, até a natureza anda enfurecida com esse excesso de más posturas. E tudo é feito com tanta naturalidade, a normatização vai na contramão de qualquer rebelação. O diferencial cai nas teias da repetição, conquanto não traz vislumbre de algo realmente diferenciado, com algum significado. Tudo codificado. Um exército em exercício de ações padronizadas. Esgotam-se todos os tipos de recursos, teremos tempo para rebater com algum re(curso)?... o pêndulo está em curso.
"Entendedores, entenderão. "