Bendita Utopia
"Nós não somos nada" - essa é uma frase dita depois que alguém morre, mas me pergunto: por que não somos nada? Meu pai foi o melhor pai do mundo, minha tia de Japeri foi a tia mais simples, receptiva e humilde - eu adorava a comida dela. Meu amigo que teve dreads foi o melhor conselheiro e acolhedor de todos os tempos. "Nós não somos nada" é uma frase que nos resume em quê? Quando eu morrer, por favor, não digam essa frase como conforto. Não quero ninguém resumido em nada. Quero que todos sejam o que querem ser. Quero que o pobre seja recheado de alegrias, sem ter que trabalhar 8 horas por dia e chegar exausto em casa. Quero que os hospitais tenham os melhores equipamentos e que a corrupção e o egoísmo dos políticos sejam transcendidos em empatia e honestidade. Quero dignidade para os idosos abandonados e que as crianças sem pais sejam muito bem acolhidas em lares amorosos, recheados de afeto. Quero que balas de todos os sabores e cores sejam distribuídas nas favelas e que os moradores vivam com dignidade, tendo saneamento, saúde, educação, lazer e sendo tratados com o maior respeito, sem serem olhados com desprezo. Quero que os trabalhadores sejam tratados com os devidos direitos, que os motoristas tenham horário de almoço e trabalhem 4 dias na semana, que os faxineiros sejam bem remunerados, e que o comércio acabe com o discurso meritocrático de que para crescer é necessário fazer hora extra e ter uma visão de dono. Quero um mundo que preze a equidade, a igualdade e aceite com amor a diversidade. Quero que me chamem de louco por todos os cantos do mundo, pois eu direi que louco é quem não sonha com essa utopia.