O que querem as lgbt?

Ser ou representar um indivíduo LGBTQIAP+, hoje no mundo, significa personificar uma identidade. Identidade essa que caracteriza corpos desviantes do sistema sexo-gênero padrão. A identidade que foi condicionada ao ser homossexual surge por volta do século XIX na Europa como uma patologia.

Não existiam “gays” antes? A principal questão que necessita ser levantada é que mesmo quando personas tivessem, anteriormente na história, práticas homoeróticas, esses comportamentos sexuais não configuravam a identidade daquele corpo.

A primeira aparição do termo “homossexual” foi em 1806 junto de outro termo, “hetero”. Segunda a socióloga Rita Von Hunty “Sempre que surgi um desvio (homo) a norma toma forma e nome (hetero)”. Com este exemplo podemos dizer, que a partir de um divergente de qualquer norma, o sistema religioso, político ou social, necessariamente vai expressa a sua idealização. No caso, para que exista um “hetero” algo tem que divergir dele, na situação atual o “homo”.

Junto da presença do termo “homossexual” vem a sua definição, que cada uma das ciências (século XIX) declararão suas conclusões sobre estes corpos.

Psiquiatria= Ela declara estes indivíduos como perversos. Eles pervertem o natural.

Psicanálise= Ela representa aquelas personas como anormais caracterizados pela síndrome do “édipo invertido”.

Sociologia= Ela observa aquelas pessoas como desviantes da norma.

Após a conclusão das ciências, Foucault, em A História da Sexualidade, revela que, a partir da ascensão das “ciências sexuais”, ocorre a depressão das artes eróticas pois a sexualidade passa a ser algo para encaixe.

Mais uma vez, Rita Von Hunty declara que “toda identidade é fruto de um percurso social” então, podemos concluir que algo nesta sociedade permitiu que identidades diferentes da norma ascendessem. Segundo Jonh D’Emilio em uma aula, que mais tarde foi transformada em texto, descreve como o capitalismo atua na formação e no papel social destas identidades atípicas. Ele consegue montar um sistema que exemplifica a formação destes sujeitos. Primeiro a ocorre a passagem do feudalismo, da manufatura e dos núcleos familiares produtivos para o mercantilismo (que mais tarde torna-se o que conhecemos como capitalismo) e para as fábricas longe do convívio familiar. O sujeito agora, nas fábricas, recebe salário pelo serviço que presta e juntamente do êxodo rural, que gera um fluxo enorme de pessoas, proporciona o anonimato. Agora o ser que recebe salário, mora na cidade, longe da família, com diversos indivíduos que ele não o conhece adequa uma realidade onde ele pode exercitar seus prazeres, sejam eles divergentes ou não.

O professor conclui que, por mais que o capital forneça a ascensão desse grupo, para abandonar a marginalidade a comunidade precisa acabar com esse sistema, já que ele o condiciona à escória.

Retorno mais uma vez a pensadora Rita Von Hunty dizendo que “toda identidade consciente gera luta política”. No Brasil o jornalista Celso Curi fala para a revista que a comunidade gay no país é despolitizada e desorganizada e classifica a comunidade em dois grupos

1-Aqueles que habitam o “underground” da sociedade, escondendo-se no “sigilo” ou tentando de higienizar de sua cultura política LGBT, querendo ser integrados as sistema normativo vigente.

2-Aqueles que levam uma vida boemia, vivendo em farras e festa onde tentam conter o corpo em eterna juventude e as relações sociais são substituídas pelo sexo sem compromisso.

O questionamento "o que querem ..." ou "o que desejam..." para um sujeito é fundamental para pavimentar o tipo de luta política que aquele ser deve lutar. Um indivíduo sem desejo é uma pessoa sem luta e que pode facilmente se acomodar.

Em ambos os grupos, estes corpos permanecem à marginalidade e sem voz de luta política pois esses movimentos estão sem luta, eles não passam de uma subcultura que nada produz, que de nada vale. As nossas paradas não são para mostrarmos nossas belezas, mas sim, para mostrarmos nossas marcas, nossas cicatrizes.

Mas, afinal, as LGBT até quando vão ficar fazendo sexo nos banheiros? Sexo, muitas vezes, com quem as mata nas ruas. Até quando esta comunidade vai permanecer como subcultura? Quando vamos nos organizar, como corpos unidos, repletos de histórias e vivências para criamos uma contracultura que nos dê orgulho? Quando vamos revisitar nossas histórias?

Vamos conscientizar nossas identidades para criarmos movimentos articulados e, por fim, gerar embates políticos! Até isso acontecer vamos morrer aos montes...

FONTE:

*Rita Von Hunty vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=K5ROANo8ZOw&t=1417s)

*Capitalismo e a Identidade Gay - John D'emilio ( https://platypus1917.org/wp-content/u... )

* O capitalismo tornou a identidade gay possível. Agora precisamos destruí-lo. - John D'emilio

( https://jacobin.com.br/2021/01/o-capi... )

Kaleb Aragão
Enviado por Kaleb Aragão em 15/04/2023
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